domingo, 16 de janeiro de 2011

O homem na minha varanda

Um dia, encontrei um homem. Era uma figura estranha. Vestia um terno preto, cartola e uma rosa chá na lapela. Ele estava tomando chá de camomila. A bengala apoiada no braço da cadeira. Uma dessas bengalas de madeira bem escura, com uns desenhos estranhos talhados nela. Óculos escuros espelhados redondos estilo John Lenon. Ele tomou um gole da xícara de porcelana branca com a borda dourada que exibia uma pequena rachadura. Ele estava sentado na minha varanda.

Moro no 13° andar.

Me aproximei surpreso. De onde ele vinha? Como havia ido parar ali? Por que na minha varanda? Inúmeras perguntas pipocaram na minha cabeça sobre o homem na minha varanda. Quando cheguei a alguns passos da mesinha que ele havia se apossado para o chá daquela tarde nublada, ele me convidou para sentar. Voz grave, mas gentil. Sem muito volume, sem exageros. Sentei enquanto ele me encarava por de trás dos óculos. A pele pálida de aparência frágil. Não sei dizer se ele aparentava 40, 50 ou 100 anos. Parecia todas essas idades juntas.

- Você se preocupa demais com coisas irrelevantes. - ele disse antes de tomar mais um gole de camomila.

- Quem é o senhor? Por que está na minha varanda? - disparei apressado - E como chegou aqui?

Ele acabou de sorver o gole do chá e depositou a xícara no pequeno pires sobre a mesa.

- Se eu for o Fred, o João ou o Batista, que diferença vai fazer? Você não me conhece. Ninguém me conhece. Apenas quiz parar um pouco, fazer uma pausa. Chá? - indagou com ar risonho.

- Não, não quero chá! Quero saber quem é você e como chegou aqui! - exclamei quase batendo na mesa e recebendo um suspiro de desaprovação em resposta.

- Eu não sou ninguém. Ninguém sabe meu nome. Ninguém me chama, nem quer me encontrar. Portanto não sou ninguém. Cheguei aqui andando. De que outra forma seria? Estava um pouco cansado do trabalho e resolvi fazer uma pausa. E quem sabe conseguir alguns minutos de prosa com uma moça bonita? Pelo menos consegui a prosa. Já me dou por satisfeito.

- O senhor está brincando comigo? - indaguei irritado

- Um pouco, sim. Desculpe. Velha mania. Mas não costumo ter com quem falar ou brincar. Estou meio enferrujado, eu diria. Qual seu nome? - ele perguntou amigável de repente.

-... Alguém. - respondi com um sorriso no rosto.

- É justo. - ele consentiu - Seria mais se eu não soubesse seu nome, que você tem 23 anos, está começando um novo trabalho e apaixonado por aquela linda garota que conheceu faz umas semanas, não seria? - ele respondeu displicente, quase me fazendo pular da cadeira.

- Que---Como sabe dessas coisas? O senhor está me seguindo? Espiando?!

- Não... Não. Eu sei de tudo. Pelo menos mais do que a maioria saberia saber. Sei quase tudo de todos. Diria que sou o segundo que mais sabe.

- Mas não sabe quem é. - respondi rápido.

- Sei o que sou, mas não quem sou. Veja bem, não tenho nome, tenho uma função. Encontro todos, mas ninguém me encontra. É um trabalho triste. - comentou desanimado.

- Deve ser mesmo. - concordei.

- Chá? - ele tornou a indagar.

- Acho que dessa vez vou aceitar. - respondi um pouco na defensiva.

Ele pegou o bule ainda fumegante e despejou o chá numa segunda xícara que eu não tinha visto antes que estava na mesa.

- Obrigado.

- É o mínimo que posso fazer, afinal, você está me proporcionando meu minuto de descanso.

- E o que você faz, mesmo? – reiniciei a conversa.

- Você pode dizer que transporto pessoas.

- Sem que elas te encontrem?

- Isso.

- Mas você as encontra?

- Exatamente.

Parei por alguns instantes.

- Tem certeza que você pode fazer essa pausa?

- Sim, sim. Muito de vez em quando. Mas acontece de surgir a oportunidade.

- Deve ser realmente solitário seu trabalho. – Concordei pensativo.

- É. Mas também é necessário. Vital, eu diria. – ele comentou tomando mais um gole de chá

- Vital? - desacreditei.

- É. - ele respondeu observando um casal de pássaros que passou voando a alguns centímetros da varanda.

- Pra quem? – Insisti.

- Pra todos.

Alguns instantes de silêncio se seguiram enquanto ele tomava chá e eu observava.

-... Gostaria de uns biscoitos? - resolvi perguntar.

- Acho que não será possível.

- Por quê?

- Está quase na hora de voltar ao trabalho. - ele explicou.

- Certeza? – provoquei.

- Bom, talvez alguns... Pra viagem. - ele respondeu com um ar risonho novamente, gesticulando com a mão.

- Vou te encontrar de novo quando voltar?

- Vou te encontrar de novo. - ele disse amigável

Entrei para pegar um pacote de bolachas no armário quando ouvi um estrondo ao longe. Corri até a varanda pra ver o que era. Lá em baixo, na rua, uma pequena coluna de fumaça se formava em um cruzamento. E o homem na minha varanda havia sumido, deixando apenas uma xícara de chá de camomila pela metade. Debrucei sobre o parapeito e respirei fundo deixando um sorriso aparecer.

- É, parece que acabou seu intervalo.

Então entrei para trocar de roupa e passar na casa da garota que tinha conhecido fazia umas semanas, deixando um pratinho com cinco bolachas na mesa da varanda.

5 comentários:

Unknown disse...

Você é foda <3

Allan disse...

Interessante ;D

Anônimo disse...

muito bom! :O

Terts disse...

Legal... Acho que adivinhei quem era logo no começo... Se eu realmente acertei, claro!

Anônimo disse...

Não entendi o objetivo do texto,estava bem interessande, mas acabou sem final,nem sei dizer se acabou mesmo, vc escreve bem,mas fiquei decepcionado quando terminei a leitura.

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