sexta-feira, 23 de julho de 2010

Décima quarta noite

14° noite

Então, séculos sem postar porra nenhuma, né. Já taa na hora de escrever algo. Sem ilustração dessa vez. PC cheio de problema então tá meio complicado.

Mas pelo menos deu pra postar a 14° noite.


Os dois vampiros estavam sentados no para-peito da suíte de Rhuan enquanto observavam o movimento na rua. Uma semana passara desde que Thiago fora baleado por Bart. As duas balas de prata recobertas por inscrições agora enfeitavam uma das prateleiras da estante do quarto do rapaz dentro de um pequeno frasco de vidro. Rhuan as deu para Thiago pouco depois dele acordar, “a primeira bala nunca se esquece” foi o que o amigo disse enquanto lhe jogava o frasco com um grande sorriso no rosto e uma taça de champagne nas mãos. Ele sabia que o amigo não sentia mais o gosto de alimentos normais, mas Rhuan disse que era para comemorar. Então os dois beberam a noite inteira. Agora eles observavam as pessoas, grandes recipientes recheados de alimento, soltos no pasto a espera do abatimento.

- Fome, cara?
- Não...
- Já ouviu falar no fantasma de luz? – disse Rhuan de repente abrindo seu sorriso.
- Fantasma de luz?
- É, cara, tão falando que começou a aparecer um fantasma de luz que caça vampiros e outras coisas estranhas a noite. Me mostraram uma foto de um alojamento que ele atacou...
- Sério? E ae? – indagou Thi animado.
- E ae nada. Um monte de pó de vampiro. Esqueceu que vampiro vira pó? Mas realmente tinham algumas marcas estranhas no lugar. Tão querendo organizar um grupo de caça.
- Grupo de caça?
- É. A idéia de um ceifador de verdade a solta pode acabar dando em merda grande. Então acharam melhor cortar isso de uma vez. Deve ser divertido bancar o caçador de monstros pra variar...
- Se somos dois vampiros sentados na varanda do 23° andar, por que não teria um ceifador por aí. Certo? – brincou Thi.
- Tá a fim de caçar ele?

Thi olhou para Rhuan já sabendo que iria encontrar o sorriso de orelha a orelha no amigo enquanto os olhos deixavam o brilho avermelhado emergir bem de leve lá no fundo. A verdade é que ele também ficara curioso, além de querer sair ganhando desde a derrota para os caçadores. Por que não, então?

Do outro lado da cidade, um grupo de vampiros corria pelos andares abandonados de um prédio interditado pela prefeitura. Os cinco mantinham seus olhos acesos e as presas a mostra, caçando sua próxima refeição. Dois rapazes eram o alvo do bando, interceptados no caminho para faculdade. Um jovem negro alto e seu companheiro ruivo, baixo e gordo. Ambos arfavam enquanto se escondiam em um dos apartamentos.

- Sério, Tadeu, por que você tinha que resolver entrar nessa merda desse prédio! – reclamava o ruivo gritando em voz baixa enquanto agitava os braços .
- Por que tinham cinco doidos correndo atrás da gente e rosnando! Queria que eu fizesse o quê? Abraçasse eles? – respondeu Tadeu com um sorriso nervoso no rosto – Agora me ajuda a arrastar esse treco pra frente da porta!

Os dois empurraram uma estante até bloquear a porta e então se deixaram cair sentados no chão. O suor escorria em seus rostos conforme tentavam ouvir algum sinal da aproximação dos homens.

- Eles tão armados? – voltou a perguntar o ruivo
-Acho que não, Vitor. Pelo menos aqui eles não entram. Mas ainda acho que a gente devia tentar correr até a saída.
- Maluco, escadas! Olha pra mim! Tu acha que eu consigo ficar correndo e subindo escadas? O gordo morre primeiro por isso! – Vitor parou para recuperar um pouco do fôlego – Puta que pariu, com essa pose de atleta aí vai sair limpinho enquanto o Gorpo se fode, né? – Vitor tentou falar quase sem ar.
- Cala a boca Vitor. A gente vai sair daqui. Afinal, são só cinco drogados arrumando confusão. Pega uma pedaço de pau ae, e vamos lá resolver isso.
- Merda! – respondeu Vitor enquanto tentava arrancar um cano exposto da parede – Cinco contra nós. E a gente nem sabe se eles tem arma!... Aliás, você também achou que viu o olho deles vermelho?
- Eles são drogados, porra! É claro que o olho tá vermelho!
- Não, sua anta! To falando vermelho tipo Sétimo, e não vermelho fumado!
- Sério que até aqui você vai cismar com essas porcarias? Tu tá lendo muito André Vianco!
- ...Eu to falando sério! Olha...

O som da porta estourando junto com a estante conforme o primeiro dos cinco vampiros invadia o local saltando contra Vitor e o acertando com uma voadora no rosto encheu o prédio. O ruivo foi arremessado pelo potente golpe no rosto até o outro lado da sala, chocando-se com a parede antes de cair.

Tadeu observou de olhos arregalados o amigo voar de um lado ao outro do apartamento ao mesmo tempo em que os cinco homens surgiam com os olhos brilhando e presas a mostra. Antes que o jovem pudesse reagir, também foi atingido por um golpe do vampiro, que girou o corpo lhe acertando com o antebraço e o fazendo rodopiar no ar e cair no chão.

O primeiro vampiro, então, pos o pé sobre a cabeça de Tadeu pressionando-a contra o chão conforme os demais entravam na sala. Os cinco haviam sido transformados fazia dois anos em uma rave. Gostavam de caçar a comida, dizia que o sangue quente e com adrenalina ainda circulando dava um efeito especial ao ser bebido. E essa noite pareciam estar com sorte. Duas refeições fartas os esperavam. Os quatro outros vampiros rodearam Vitor e começaram a chutá-lo, como se brincassem com a comida.

- Vitor! – gritou Tadeu tentando retirar o pé do vampiro de cima da própria cabeça – Vitor, agüenta, cara! Já vou te tirar daí! – o rapaz empurrava o é do vampiro em vão – Tira essa merda desse pé da minha cara seu filho da puta!!

Os vampiros riam conforme os rapazes de debatiam na tentativa de se livrar.

- Tadeu – chamou Vitor tossindo um pouco de sangue – Acho que já tá bom, né? – indagou, conforme foi deixando um largo sorriso se abrir acompanhado de um rosnar baixo.
- Achei que você nunca ia falar.

Repentinamente, o primeiro vampiro perdeu o equilíbrio tombando no chão, sem entender o que acontecia. Seus olhos ainda acessos percorreram a sala encontrando Tadeu de pé ao seu lado segurando metade de sua perna decepada em uma das mãos. O vampiro não conseguiu entender o que acontecia, até que o grito de um de seus companheiros o fez despertar e voltar sua atenção para o outro lado a tempo de ver a metade superior de um de seus companheiros sendo separada do resto do corpo pelo gordo que iriam beber.

- Ainda não entendeu, não é? – indagou Tadeu se abaixando um pouco para encarar os olhos rubros do vampiro e então deixar os próprios olhos se modificarem conforme seu corpo começava a parecer inchar.

Pêlos negros cresceram cobrindo a pele de Tadeu, seus ossos estalavam como se quebrassem e se regenerassem em um formato diferente. Sua boca pareceu rasgar de um lado ao outro do rosto exibindo dentes maiores que as do vampiro, formando uma fileira de afiadas presas conforme a face se alongava formando um focinho. As mãos aumentaram, com garras curvas rasgando a ponta de seus dedos. O rapaz, que já era alto, pareceu ficar quase da altura do apartamento. Sua respiração se tornou forte e rosnados passaram a ser emitidos. Os olhos amarelados brilharam no escuro do local. O rapaz humano havia desaparecido completamente na noite, deixando em seu lugar um enorme lobisomem negro que agora erguia o vampiro pela cabeça com uma das mãos.

- Achou mesmo que amadores como vocês poderiam nos caçar? – o vampiro voltou a olhar para o outro lado, encontrando outro lobisomem, dessa vez de pêlos avermelhados segurando um dos outros vampiros com uma das mãozorras enquanto prendia outro com a pata inferior e acabava de atravessar o tórax do terceiro com suas garras – Nós caçamos nessas terras antes mesmo dela ser “descoberta”. E vocês, que mal conhecem tudo que existe aqui, acham que são os caçadores? – Tadeu deixou escapar uma mistura de risada com rosnar – Acho que não.

O lobisomem negro apertou com força a mão que segurava a cabeça do vampiro, esmagando-a sem dificuldade, fazendo o resto do corpo tombar no chão já sem vida.

- Com esses são 12 em um mês! – comentou Vitor animado enquanto puxava o coração atrofiado de um dos vampiros – Acho que essa vai ser uma bela temporada, Tadeu.
- Deixa esse último vi...Vitor! è pra deixar ele vivo! – reclamou Tadeu ao ver que o amigo começava a rasgar o tórax do vampiro – Vamos levar esse idiota pra matilha. Precisamos de algumas respostas.
- Tá bom, tá bom. Mas depois eu quero matar ele! Afinal, não fiquei levando chute de vampiro bichinha a toa. E é melhor você falar, seu chupador, senão a gente põe você pra brilhar bem aos pouquinhos. – vociferou o lobisomem ao vampiro, quebrando seu braço ao parar uma tentativa de ataque – ESSE não foi culpa minha, ok?

Então, arrastando o vampiro moribundo pela noite, os dois lobisomens partiram do local.

- A gente não devia fazer alguma coisa, Rhuan? – questionou Thi já acendendo os olhos e se preparando para iniciar a perseguição.
- Por quê? Eram idiotas de sangue fraco. Nada que valha a pena arriscar um confronto com uma matilha. – rebateu Rhuan sem dar muita importância – Mas o principal é que no final nada de fantasma de luz nessa área. – completou desanimado – Fazer o que. Tá com fome? – Voltou a sorrir o vampiro enquanto Thiago abaixava a cabeça em reprovação segurando o riso.