sexta-feira, 23 de julho de 2010

Décima quarta noite

14° noite

Então, séculos sem postar porra nenhuma, né. Já taa na hora de escrever algo. Sem ilustração dessa vez. PC cheio de problema então tá meio complicado.

Mas pelo menos deu pra postar a 14° noite.


Os dois vampiros estavam sentados no para-peito da suíte de Rhuan enquanto observavam o movimento na rua. Uma semana passara desde que Thiago fora baleado por Bart. As duas balas de prata recobertas por inscrições agora enfeitavam uma das prateleiras da estante do quarto do rapaz dentro de um pequeno frasco de vidro. Rhuan as deu para Thiago pouco depois dele acordar, “a primeira bala nunca se esquece” foi o que o amigo disse enquanto lhe jogava o frasco com um grande sorriso no rosto e uma taça de champagne nas mãos. Ele sabia que o amigo não sentia mais o gosto de alimentos normais, mas Rhuan disse que era para comemorar. Então os dois beberam a noite inteira. Agora eles observavam as pessoas, grandes recipientes recheados de alimento, soltos no pasto a espera do abatimento.

- Fome, cara?
- Não...
- Já ouviu falar no fantasma de luz? – disse Rhuan de repente abrindo seu sorriso.
- Fantasma de luz?
- É, cara, tão falando que começou a aparecer um fantasma de luz que caça vampiros e outras coisas estranhas a noite. Me mostraram uma foto de um alojamento que ele atacou...
- Sério? E ae? – indagou Thi animado.
- E ae nada. Um monte de pó de vampiro. Esqueceu que vampiro vira pó? Mas realmente tinham algumas marcas estranhas no lugar. Tão querendo organizar um grupo de caça.
- Grupo de caça?
- É. A idéia de um ceifador de verdade a solta pode acabar dando em merda grande. Então acharam melhor cortar isso de uma vez. Deve ser divertido bancar o caçador de monstros pra variar...
- Se somos dois vampiros sentados na varanda do 23° andar, por que não teria um ceifador por aí. Certo? – brincou Thi.
- Tá a fim de caçar ele?

Thi olhou para Rhuan já sabendo que iria encontrar o sorriso de orelha a orelha no amigo enquanto os olhos deixavam o brilho avermelhado emergir bem de leve lá no fundo. A verdade é que ele também ficara curioso, além de querer sair ganhando desde a derrota para os caçadores. Por que não, então?

Do outro lado da cidade, um grupo de vampiros corria pelos andares abandonados de um prédio interditado pela prefeitura. Os cinco mantinham seus olhos acesos e as presas a mostra, caçando sua próxima refeição. Dois rapazes eram o alvo do bando, interceptados no caminho para faculdade. Um jovem negro alto e seu companheiro ruivo, baixo e gordo. Ambos arfavam enquanto se escondiam em um dos apartamentos.

- Sério, Tadeu, por que você tinha que resolver entrar nessa merda desse prédio! – reclamava o ruivo gritando em voz baixa enquanto agitava os braços .
- Por que tinham cinco doidos correndo atrás da gente e rosnando! Queria que eu fizesse o quê? Abraçasse eles? – respondeu Tadeu com um sorriso nervoso no rosto – Agora me ajuda a arrastar esse treco pra frente da porta!

Os dois empurraram uma estante até bloquear a porta e então se deixaram cair sentados no chão. O suor escorria em seus rostos conforme tentavam ouvir algum sinal da aproximação dos homens.

- Eles tão armados? – voltou a perguntar o ruivo
-Acho que não, Vitor. Pelo menos aqui eles não entram. Mas ainda acho que a gente devia tentar correr até a saída.
- Maluco, escadas! Olha pra mim! Tu acha que eu consigo ficar correndo e subindo escadas? O gordo morre primeiro por isso! – Vitor parou para recuperar um pouco do fôlego – Puta que pariu, com essa pose de atleta aí vai sair limpinho enquanto o Gorpo se fode, né? – Vitor tentou falar quase sem ar.
- Cala a boca Vitor. A gente vai sair daqui. Afinal, são só cinco drogados arrumando confusão. Pega uma pedaço de pau ae, e vamos lá resolver isso.
- Merda! – respondeu Vitor enquanto tentava arrancar um cano exposto da parede – Cinco contra nós. E a gente nem sabe se eles tem arma!... Aliás, você também achou que viu o olho deles vermelho?
- Eles são drogados, porra! É claro que o olho tá vermelho!
- Não, sua anta! To falando vermelho tipo Sétimo, e não vermelho fumado!
- Sério que até aqui você vai cismar com essas porcarias? Tu tá lendo muito André Vianco!
- ...Eu to falando sério! Olha...

O som da porta estourando junto com a estante conforme o primeiro dos cinco vampiros invadia o local saltando contra Vitor e o acertando com uma voadora no rosto encheu o prédio. O ruivo foi arremessado pelo potente golpe no rosto até o outro lado da sala, chocando-se com a parede antes de cair.

Tadeu observou de olhos arregalados o amigo voar de um lado ao outro do apartamento ao mesmo tempo em que os cinco homens surgiam com os olhos brilhando e presas a mostra. Antes que o jovem pudesse reagir, também foi atingido por um golpe do vampiro, que girou o corpo lhe acertando com o antebraço e o fazendo rodopiar no ar e cair no chão.

O primeiro vampiro, então, pos o pé sobre a cabeça de Tadeu pressionando-a contra o chão conforme os demais entravam na sala. Os cinco haviam sido transformados fazia dois anos em uma rave. Gostavam de caçar a comida, dizia que o sangue quente e com adrenalina ainda circulando dava um efeito especial ao ser bebido. E essa noite pareciam estar com sorte. Duas refeições fartas os esperavam. Os quatro outros vampiros rodearam Vitor e começaram a chutá-lo, como se brincassem com a comida.

- Vitor! – gritou Tadeu tentando retirar o pé do vampiro de cima da própria cabeça – Vitor, agüenta, cara! Já vou te tirar daí! – o rapaz empurrava o é do vampiro em vão – Tira essa merda desse pé da minha cara seu filho da puta!!

Os vampiros riam conforme os rapazes de debatiam na tentativa de se livrar.

- Tadeu – chamou Vitor tossindo um pouco de sangue – Acho que já tá bom, né? – indagou, conforme foi deixando um largo sorriso se abrir acompanhado de um rosnar baixo.
- Achei que você nunca ia falar.

Repentinamente, o primeiro vampiro perdeu o equilíbrio tombando no chão, sem entender o que acontecia. Seus olhos ainda acessos percorreram a sala encontrando Tadeu de pé ao seu lado segurando metade de sua perna decepada em uma das mãos. O vampiro não conseguiu entender o que acontecia, até que o grito de um de seus companheiros o fez despertar e voltar sua atenção para o outro lado a tempo de ver a metade superior de um de seus companheiros sendo separada do resto do corpo pelo gordo que iriam beber.

- Ainda não entendeu, não é? – indagou Tadeu se abaixando um pouco para encarar os olhos rubros do vampiro e então deixar os próprios olhos se modificarem conforme seu corpo começava a parecer inchar.

Pêlos negros cresceram cobrindo a pele de Tadeu, seus ossos estalavam como se quebrassem e se regenerassem em um formato diferente. Sua boca pareceu rasgar de um lado ao outro do rosto exibindo dentes maiores que as do vampiro, formando uma fileira de afiadas presas conforme a face se alongava formando um focinho. As mãos aumentaram, com garras curvas rasgando a ponta de seus dedos. O rapaz, que já era alto, pareceu ficar quase da altura do apartamento. Sua respiração se tornou forte e rosnados passaram a ser emitidos. Os olhos amarelados brilharam no escuro do local. O rapaz humano havia desaparecido completamente na noite, deixando em seu lugar um enorme lobisomem negro que agora erguia o vampiro pela cabeça com uma das mãos.

- Achou mesmo que amadores como vocês poderiam nos caçar? – o vampiro voltou a olhar para o outro lado, encontrando outro lobisomem, dessa vez de pêlos avermelhados segurando um dos outros vampiros com uma das mãozorras enquanto prendia outro com a pata inferior e acabava de atravessar o tórax do terceiro com suas garras – Nós caçamos nessas terras antes mesmo dela ser “descoberta”. E vocês, que mal conhecem tudo que existe aqui, acham que são os caçadores? – Tadeu deixou escapar uma mistura de risada com rosnar – Acho que não.

O lobisomem negro apertou com força a mão que segurava a cabeça do vampiro, esmagando-a sem dificuldade, fazendo o resto do corpo tombar no chão já sem vida.

- Com esses são 12 em um mês! – comentou Vitor animado enquanto puxava o coração atrofiado de um dos vampiros – Acho que essa vai ser uma bela temporada, Tadeu.
- Deixa esse último vi...Vitor! è pra deixar ele vivo! – reclamou Tadeu ao ver que o amigo começava a rasgar o tórax do vampiro – Vamos levar esse idiota pra matilha. Precisamos de algumas respostas.
- Tá bom, tá bom. Mas depois eu quero matar ele! Afinal, não fiquei levando chute de vampiro bichinha a toa. E é melhor você falar, seu chupador, senão a gente põe você pra brilhar bem aos pouquinhos. – vociferou o lobisomem ao vampiro, quebrando seu braço ao parar uma tentativa de ataque – ESSE não foi culpa minha, ok?

Então, arrastando o vampiro moribundo pela noite, os dois lobisomens partiram do local.

- A gente não devia fazer alguma coisa, Rhuan? – questionou Thi já acendendo os olhos e se preparando para iniciar a perseguição.
- Por quê? Eram idiotas de sangue fraco. Nada que valha a pena arriscar um confronto com uma matilha. – rebateu Rhuan sem dar muita importância – Mas o principal é que no final nada de fantasma de luz nessa área. – completou desanimado – Fazer o que. Tá com fome? – Voltou a sorrir o vampiro enquanto Thiago abaixava a cabeça em reprovação segurando o riso.

domingo, 30 de maio de 2010

STEAM: conheça a primeira plataforma de jogos online

Em 08 de março, o Steam, programa de gerenciamento de download e distribuição de jogos, desenvolvido pela empresa Valve e lançado em 2004, disponibilizou sua versão para a utilização no sistema MAC OS X. O programa foi o primeiro do tipo, e atualmente conta com cerca de 25 milhões de contas de usuários ativas além de jogos das maiores empresas produtoras, como Electronic Arts, Activision, 2K Games, Ubisoft, THQ, Sega, Codemasters, id Software, LucasArts, Capcom, Rockstar Games e Bethesda Softworks em seu catálogo.

O projeto de construção do Steam data de 2002, quando a Valve entrou em contato a Microsoft e a Yahoo buscando ajuda para o projeto. Porém a iniciativa não foi bem sucedida, com o pedido sendo rejeitado com a alegação de o projeto ser futurista demais. O que levou a empresa a construir todo o sistema do zero.

O conceito futurista baseava-se na idéia da distribuição de jogos e conteúdo relacionado, desde de pequenos projetos independentes a grandes hits de mercado, pela rede mundial de computadores, sem a necessidade de mídias físicas. O usuário, ao comprar um jogo via Steam, tem o produto atrelado a sua conta de usuário permanentemente. Esse diferencial permite que o conteúdo comprado pelo usuário seja baixado um número ilimitado de vezes em qualquer computador, desde que este possua o programa cliente do Steam instalado.



Em 2005, um ano após seu lançamento oficial, a Valve anunciou que o sistema do Steam já se tornava lucrável, rendendo o lucro bruto de U$30 para cada U$50 vendidos. Uma margem muito superior a obtida em suas vendas de varejo, que rendiam apenas U$7,5 de lucro. Devido ao sucesso da iniciativa, em 2007, grandes empresas como Eidos Interactive, Capcom, e id Software passaram a também disponibilizar seus jogos para distribuição no Steam. Com isso, o Steam passou a ter cerca de 150 jogos disponíveis em seu catálogo, e contar com 13 milhões de contas de usuários. Culminando com a plataforma se tornando líder no mercado de distribuição digital.

Um grande fator do sucesso do Steam é a Steam Community, inaugurada em 2007, a Community é um serviço de rede social para os usuários do programa, que está disponível para os usuários. Nele, ficam disponíveis dados sobre o usuário da conta, jogos que possui, taxa de utilização e links para grupos que o usuário faz parte. Além disso, a Steam Community conta com uma ferramenta de mensagens instantâneas e suporte para conversas privadas ou em grupo, assim como informações sobre o que está sendo jogado naquele instante. Facilitando aos jogadores se unirem em um modo multiplayer. Atualmente, a comunidade conta com 10 dos 25 milhões de usuários do Steam inscritos.

Outra característica atrativa do Steam são as promoções freqüentes realizadas. Ao se comprar um jogo, Guest Passes são fornecidos para que o usuário possa compartilhá-los com amigos que não tenham o jogo, permitindo-os jogar por um tempo limitado. Também há os Free Weekends, quando jogos multi-plataformas se tornam disponíveis para se jogar gratuitamente por um fim de semana e o Weekend Deal, quando jogos são oferecidos com discontos de 50 a 75% nos preços.




Mais sobre o Steam e sua produtora, Valve:

http://turnwind.blogspot.com/2010/05/steam-e-lancado-para-mac.html

http://turnwind.blogspot.com/2010/05/valve-14-anos-de-sucesso.html

http://www.valvesoftware.com/

http://store.steampowered.com/

Steam é lançado para Mac

Em 12 de maio, a produtora de jogos Valve anunciou o lançamento mundial de seu sistema de distribuição de jogos online, o Steam, para itunes e computadores do sistema Mac OS X. Junto com o lançamento, como brinde para os usuários de Mac que baixarem o cliente do sistema, a produtora disponibilizou o download do jogo Portal, um de seus maiores sucessos, gratuitamente por duas semanas.

Durante a campanha de lançamento, a Valve disponibilizou diversos diversas imagens por e-mail para membros da comunidade de Mac e sites de games apresentando personagens de jogos da produtora com logos da Apple ou em cenas que remetiam a antigos anuncios da Macintosh. A peça mais marcante dessa campanha foi para promover a disponibilidade do jogo Half-Life 2 e seus episódios para o Mac. Nela, foi recriada o comercial de 1984 de Apple Macintosh com as personagens do jogo.


A produtora confirmou que jogos que os usuários já haviam comprado para o Windows poderão ter sua versão para o Mac OS X baixada novamente, de forma gratuita, para que possam continuar a jogar na nova plataforma. A comunidade de jogos e opções de jogos on line também será multi-plataforma, permitindo que tanto usuários de Windows quanto os de Mac possam jogar juntos.

Logo no lançamento, aproximadamente 50 jogos já se encontravam disponíveis para download para os clientes de Mac. Posteriormente, mais jogos estão sendo disponibilizados todas as quartas-feiras. Os títulos, entre os quais estão “Zuma”, “Civilization IV”, “Peggle”, “World of goo”, “Football manager 2010”, podem ser adquiridos do Brasil utilizando cartão de crédito internacional.
Mais sobre o Steam:

Valve, 14 anos de sucesso

Criadora do Steam, primeira plataforma de jogos online, a Valve é uma empresa americana de produção de jogos e tecnologia, fundada em 1996. Mesmo com a pouca idade, a produtora já é famosa pela alta qualidade de seus jogos, em sua maioria de tiro em primeira pessoa (FPS) e o longo tempo que leva para produzi-los.

A primeira produção da empresa foi o jogo Half-Life, ganhador de mais de 50 títulos de melhor jogo do ano e considerado como “melhor jogo de PC de todos os tempos” nas edições de novembro de 1999, outubro de 2001,e abril de 2005 da PC Gamer, revista de jogos de computador mais vendida no mundo. E que hoje conta com uma continuação dividida em dois episódios.

Ao longo de seus 14 anos, a Valve produziu seis séries de jogos: Half-Life, Team Fortress, Portal, Counter Strike, Left 4 Dead e Day of Defeat. A empresa é famosa por sua aceitação de mods, chegando a comprar alguns produzidos e a partir deles desenvolverjogos inteiros. Os títulos da empresa somam mais de 20 milhões de unidades vendidas pelo mundo, e constituem 80% das vendas de jogos para PC.


No lado tecnológico da empresa, a Valve apresenta além do Steam, conta com sua engine, Source, caracterizada por sua flexibilidade e poder de desenvolvimento de ambientes em jogo. Ainda conta com a capacidade de animação de personagem, inteligência artificial avançada no jogo, renderização e física em jogo muito próxima a real.

Mais sobra o Steam:

sábado, 1 de maio de 2010

Dia 01

Já deu pra notar que não to mais atualizando diarimente o blog, né? Pois é. Ilustração a cada postagem demora... E escrever histórias novas demoram um pouco também, já que as que tinham prontas acabaram faz tempo. Então tentar atualizar semanalmente, com sorte duas vezes por semana.

Agora parando de enrolar...


Dia 1

Bartolomeu desceu da chopper mancando e ofegante. O suit desativado agora não passava de uma roupa colante esquisita sob suas roupas normais. Os hematomas serviram para mantê-lo acordado durante caminho. Ele foi cambaleando até uma porta de aço, empurrando-a com o peso do corpo, e desceu a longa escadaria escorando-se nas paredes com o ombro.

Ele seguiu pelo corredor até uma porta de prata maciça coberta por símbolos que nem ele mesmo conhecia, mas garantiam que nada indesejado ultrapassasse aquele ponto. Um verificador de temperatura corporal e scanner de retina garantiram seu acesso ao elevador. Bart entrou e recostou na parede, quase adormecendo embalado pela música ambiente até que o plim anunciando sua chegada ao local desejado o despertou.

Era uma câmara maior do que uma casa, agora lotada com paramédicos e enfermeiros correndo de um lado para o outro atendendo a caçadores que eram trazidos por diversos outros pontos de despejo. Ele sabia que ia terminar assim. Tentou fazer a diretoria da Fundação entender, mas foi tudo inútil e o resultado que previra estava ali diante dele. Caçadores mutilados a beira da morte em cima de macas empurradas por médicos desesperados tentando salvar o máximo de vidas possíveis, estancando hemorragias, limpando ferimentos.

Um dos enfermeiros se aproximou de Bartolomeu e o ajudou a deitar em uma das macas para ser atendido. Ele sabia que era o paciente mais saudável daquele lugar. Alguns ossos fraturados, uma ou outra laceração, mas nada vital fora atingido. A droga do suit realmente valia a pena. Deixando escapar um gemido de dor, ele retirou a parte superior do traje, deixando a mostra o tronco musculoso coberto de inúmeras cicatrizes. Lembranças de caçadas anteriores. Aos poucos, o barulho dos gritos no salão foi diminuindo substituídos pelo silêncio da inconsciência a qual se entregava.

O sol já brilhava no céu enquanto Lucy, deitada no sofá, selecionava algumas músicas para baixar em seu ipod. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo, usava uma camisa branca simples e um short rasgado. A aparência casual quase camuflava a 45 posicionada entre as coxas da jovem.

Era dia e seu mestre estava adormecido. Um amanhecer fora do comum. Rhuan chegara carregando o apprenti no ombro. Parecia ferido, mas achava que ele iria sobreviver. A jovem acabou de carregar as músicas, colocou o fone no ouvido e começou a desmontar uma metralhadora que estava em cima da mesa e limpá-la.

Duas batidas leves na porta interromperam o trabalho de Lucy, que remontou a metralhadora de forma tão rápida que quase não se pode ver seus movimentos. Então se aproximou da porta verificando se a 45 estava carregada, a encostou abaixo do olho mágico e verificou pelo monitor quem estava do lado de fora. Um homem corcunda trajando um longo casacão velho, cartola e um cachecol rosa, portando uma grande maleta de couro. Ela abriu a porta e antes mesmo que o visitante pudesse se anunciar tinha o cano da pistola encostado em sua testa.

- Bom dia, menina Lucy. – cumprimentou o ancião com um sorriso que mostrava seus dentes amarelados.
- Ah, é o senhor. Bom dia. – respondeu Lucy sem alterar sua voz.
- Recebi a informação de que seu mestre gostaria de meus serviços... poderia tirar isso da minha testa? – perguntou apontando para o revolver.

Lucy abaixou a arma e guiou o ancião conhecido como Doutor até a porta dos aposentos de Thiago. Ainda podia se ouvir os gemidos que o rapaz emitia mesmo adormecido.

- Retiraram as balas? – indagou Doutor conforme retirava o próprio globo ocular direito, removia a íris e a substituía por uma outra de cor diferente como quem substituía um adesivo, e então recolocava o olho no lugar.
- Oui.
- Adoro quando fala francês, menina. – sorriu enrugando ainda mais o rosto envelhecido.

Lucy deu de ombros e retornou para sala.

- Maître Rhuan disse que seu pagamento seria feito da mesma forma de sempre. – informou Lucy enquanto voltava a desmontar a arma. De certa forma, ela pareça gostar de fazer aquilo.
- Ótimo, ótimo. Estava ficando sem espécimes mesmo. – respondeu Doutor mais para ele mesmo do que para Lucy. Então abriu a maleta enchendo o ar da suíte com um cheiro que misturava mofo e morte, e retirou um estojo velho e coberto de manchas. – Ao trabalho. Se me dá licença... – Entrou no quarto.

Bartolomeu acordou novamente na base. Estava em seu quarto. Não havia janelas, apenas a cama em que estava, um guarda-roupas grande, uma estante repleta de livros, a mesinha de cabeceira na qual seu par de pistolas prateadas repousava e uma cadeira de madeira do lado oposto ao da mesa. A luz estava regulada no fraco e seus ferimentos cobertos por bandagens um pouco incômodas. Bart retirou um cordão de prata com uma aliança do pescoço e a passou entre os dedos, então e ficou observando o ventilador girar no teto. Não gostava de ar condicionado, sempre o deixava desligado.

Não demorou muito para a porta se abrir deixando a Dra. Mariana, diretora do setor médico da base, entrar após dar algumas orientações e assinar uma ficha trazida por algum dos novos enfermeiros. Poucos anos mais nova que Bart na Fundação. Tinha por volta dos 40, cabelo liso acima do ombro, assim como os olhos, castanho-claro, pele pálida por quase não sair da base subterrânea, lábios cheios. Era uma bela mulher.

- Nada faltando? Que sem graça! – implicou Mariana.
- Na próxima eu tento perder um braço, melhor assim? – sorriu e tornou a fisionomia séria – Quantos perdemos?
- Quantos não perdemos. É mais fácil. – ela olhou na ficha – 52.

Bart esqueceu a dor e acertou um soco na parede.

- Eu avisei! Sabia que ia dar nisso! Vocês não me ouviram! Não se manda caçadores que só fazem matar vampiros adormecidos contra um centenário! Vocês devi...
- Devia? O que eu podia fazer? Não controlo as operações! Não fui eu quem mandou essas pessoas morrer lá! Não fui eu quem provocou nada disso! Acha que não tentei convencer os diretores? A ordem não veio daqui. A base Norte enviou as ordens! A única coisa que to fazendo é tentando salvar o máximo desses soldados que eu posso! Não venha descontar em mim, Bart! – Explodiu Mariana.
- Eu... Eu não. Sei que não foi culpa sua. É que já perdemos tanta gente pra esses desgraçados normalmente. Mandar mais dos nossos pra morrer assim...!
- Eu sei. – Disse Mariana sentando-se na cama – você sabe. Mas não é o suficiente... Por que não podemos deixar isso tudo pra lá? Por que não esquece isso tudo? – Disse enquanto encostava a cabeça nas costas de Bart. A tatuagem de um arcanjo com duas espadas flamejantes cobria quase todas as cicatrizes naquela região – Se pudéssemos esquecer isso, se você pudesse esquecer... Nós poderíamos...

Bart apertou a aliança em sua mão.

- Não posso. Me desculpe...Mas não posso. Eu mato eles, ou eles me matam. É assim que tem que ser. Me desculpe.
- Você se desculpa demais, sabia? – disse Mariana forçando um sorriso – Assim acaba fazendo eu me sentir mal por isso...

Os dois continuaram em silêncio enquanto a médica trocava as bandagens de Bartolomeu. Então deixou o quarto encontrando uma menina que parecia aguardar do lado de fora.

- Ahn... Senhor Bartolomeu? – disse enquanto entrava.
- Sim? O que você quer? – respondeu Bart enquanto abotoava o blusão sobre os curativos novos.
- Bem... Meu nome é Laura, sou nova na base. Me mandaram procurar o senhor. Disseram que ia ser meu mestre de caça.

Bart acabou de abotoar o blusão e fitou a menina. Era jovem, corpo esguio, cabelos loiros lisos em uma franja até quase os olhos azuis e sardas. Rosto de boneca.

- Quantos anos tem?
- 18.
- Não parece. – retrucou Bart colocando os óculos escuros.
- Eu sei. – sorriu como uma menina – Isso ajuda na hora de cravar a estaca e arrancar as cabeças.
- É? Já fez isso quantas vezes?
-... Duas! – contou animada.
- Bom começo. Conhece a base? Sabe onde fica o salão de treino?
- Sei, sim.
- Me encontre lá. Vamos ver o que você pode fazer.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quinta Noite

Mais uma noite postada. Dessa vez resolvi acrescentar algo a mais (Valeu pela idéia, Paula). Vamos ver se vai ficar bom.... Será que tem realmente pessoas lendo isso? >XD

Sem mais delongas,


Quinta Noite



Paula estava de pé no topo do parapeito do prédio. Seu cabelo negro bem curto esvoaçava um pouco devido ao vento, os olhos cor de mel fixados na fauna noturna metropolitana que cruzava as ruas a toda velocidade. “O que estava fazendo ali?” Era o que a menina se perguntava todos os dias de seus 18 anos. Ela passava cada dia esperando o próximo, como quem aguarda a chegada de algo importante que nunca a encontrava. Seu vestido branco dançava envolta de suas pernas e uma brisa mais forte a fez perder o equilíbrio, quase caindo. Seu coração acelerou no instante em que o pé escorregou e sentiu a firmeza do chão sumir sob seus pés.

A menina despencou com força e sentiu a pancada da cabeça no chão da cobertura do prédio. Ela caíra na parte de dentro. Sentiu a cabeça aquecer conforme o sangue escorria pelo ferimento provocado pela queda. Passou os dedos no ferimento e olhou encarando o vermelho rubro que os cobriam. Ela sorriu desapontada. “Porque caí na parte de dentro?”, a pergunta ecoou na mente de Paula por um longo tempo enquanto ela continuava deitada no chão com uma pequena poça avermelhada se formando ao seu lado e, aos poucos, tingindo seu vestido e deixando seus olhos pesados.

Enquanto sua consciência desaparecia, Paula viu em sua visão turvada uma pequena bola de luz descer do céu escuro e parar sobre ela. A menina ergueu um pouco a mão manchada de sangue e a afundou na luz antes de seus olhos fecharem completamente.

Era uma sensação quente. O vento corria por seu rosto e ela sentia que flutuava envolvida por aquele calor aconchegante.

- Paula? Acorda! Vamos, menina! Não faz isso comigo!

Paula sentiu uma dor aguda na cabeça no local do machucado. Ela Apertou os olhou e tentou abri-los, tendo que apertá-los até acostumar com a luz.

- Isso! Boa menina. Agora levanta, não temos muito tempo.

A menina sentou no chão. O dia estava amanhecendo. Ela olhou em volta procurando quem estava conversando com ela. Mas tudo que achou foi a mancha da poça de sangue – seu sangue – no chão. Ela se impressionou com o tamanho da poça e ficou se perguntando quanto sangue teria perdido.

- Rápido, Paula. Eles vão te alcançar!
- Quem vai me alcançar? Aliás, quem é você?! – Perguntou a garota enquanto se levantava com certa dificuldade.
- Não importa. Não agora... eles estão chegando, precisamos tirar você daí!
- Do que você ta falando...?

Nesse instante, três homens apareceram vindos de algum lugar que a garota não conseguiu saber. Eles usavam roupas pesadas, um deles andava sobre os quatro membros enquanto os outros dois portavam armas. Ela gelou. Pensou em correr, mas seu corpo não obedecia, as pernas tremiam e o suor escorria por seu rosto. A garota começou a olhar em volta procurando algum lugar para se esconder, porém o homem sobre os quatro membros fungou o ar do ambiente e gritou para os outros dois algo que Paula não conseguiu entender. Eles, por sua vez ergueram as armas na direção da menina, que apenas fechou os olhos o mais apertados que pode e prendeu a respiração. Então a voz gritou novamente em sua cabeça.

- Paula, CORRE!

As pernas dela começaram a se mover como se tivessem vontade própria, a garota disparou tão rápido como nunca tinha feito na vida e, em um movimento, apoiou o pé no para-peito e saltou para o edifício vizinho, perdendo o equilíbrio ao aterrissar e rolando algumas vezes. Da outra cobertura, os três homens olhavam parecendo tão incrédulos quanto a própria Paula, que ainda de joelhos, suando e com uma das alças do vestido penduradas, os encarava com os olhos arregalados.

A voz voltou a mandá-la correr e ela o fez. Dessa vez cruzando aquele prédio e pulando para o próximo, então, prendendo a respiração, saltou aterrissando no topo de um poste na rua, onde pegou impulso e pulou novamente para o telhado de uma casa próxima. Os três se entreolharam e sorriram, mostrando os grandes caninos seguidos do brilho rubro no olhar. A maldita garota finalmente tinha sido encontrada. Então, ainda nos primeiros instantes em que a fumaça começava a exalar de seus corpos e a sensação das chamas se formarem em seus corpos, os três desapareceram em alta velocidade para voltar às sombras a que pertenciam.

Paula continuou a correr por um bom tempo. Seu vestido tremulava conforma ela pulava por cima das construções sem nem mesmo se dar conta da inumanidade de seus feitos. As ruas ainda estavam vazias, mas ela se movia tão rápido que dificilmente alguém poderia notar sua presença. A voz se calara fazia algum tempo, mas ela sabia pra onde ir.


Sentado no banco no topo de um prédio condenado, no meio do que mais parecia ser um jardim suspenso, um senhor vestindo um sobre-tudo branco, barba trançada, óculos escuros e longos cabelos brancos presos na ponta sorriu ao ver a menina chegar. Paula o encarou por alguns instantes, então se aproximou.

- Você demorou, Paula. - Eu... Era o senhor quem tava falando comigo, não era? - Sim, mas infelizmente demorei muito pra achar você, criança. Então não poderei explicar-lhe tudo que precisa saber.

Paula não entendeu direito. Então o velho pegou um grande livro fechado por correntes douradas com uma bela capa de madeira coberta de símbolos estranhos a menina.

- Isto é seu agora. Preciso que o proteja. Vão tentar tomá-lo de você, mas não vão conseguir, por que você não vai deixar. Queria poder ensinar como, mas meu tempo é curto. Porém, alguém irá aparecer para ensiná-la, criança. Então, guarde este livro. Ele é a sua vida... e a de todos.
- Como ass... – Paula teve que ser rápida para pegar o livro antes que ele caísse no chão, quase não conseguindo e tombando de joelhos no processo.
– Hei! Não solta o livro assim!


Contudo, ao levantar os olhos para encarar o velho, Paula encontrou apenas um banco vazio com alguns pontos luminosos ainda se apagando. A garota observou a cena por alguns instantes, então voltou a olhar para o livro, notando que sua mão esquerda, antes suja de sangue, agora estava coberta por símbolos esquisitos em vermelho, que cintilavam em sua pele clara conforme ela encostava no estranho livro. Aos poucos, um sorriso foi se abrindo em seu rosto.

Parecia que o algo importante que ela sempre esperara a havia encontrado.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Terceira noite

Atendendo a pedidos (né, Frabricio :P), escevi a terceira noite. Tédio =_=... Ah, sim! Paula se ofereceu pra revisar os textos! Brigado *u*


Terceira noite

Thiago observada a movimentação nas ruas da janela do hotel. Fazia dois dias que ele havia sido mordido e transformado em um vampiro. Ele ainda não conseguia se acostumar com a idéia. Fechou os olhos e as lembranças de seu despertar numa cobertura, ser atingido por um tapa e voar de um lado ao outro do lugar vieram a sua cabeça. Seus ossos estalando e se regenerando das fraturas. Não havia outra explicação, por mais que procurasse. Ele era um vampiro agora.

O rapaz deu a volta e encontrou uma mulher parada na porta. Era jovem, cabelo negro meio ondulado descendo por seus ombros. Pele alva, olhos verdes. Seu nome era Lucy, era a vigia de Rhuan. Ele não entendia direito o que exatamente um vigia fazia, além do que parecia óbvio que era vigiar Rhuan durante o sono. Thiago sentou-se na beirada da cama. Era estranho ser um vampiro e não dormir em um caixão ou algo assim. Não tinha visto o quarto de Rhuan, mas pelo menos ele dormia numa cama.

- O mestre está esperando na sala. – falou a mulher com voz fria e forte sotaque francês. Então saiu do quarto deixando a porta aberta.

Sem muita pressa, Thiago foi até a sala. Não lembrava muito bem o que acontecera antes dele apagar no dia de sua transformação, nem como foi parar naquela suíte. Acordou no dia seguinte ainda fraco, e Rhuan o apresentou para a mulher. Disse que ela o guardaria durante o sono e que ele estava seguro lá.

Thiago chegou na sala onde Rhuan estava sentado em sua poltrona lendo um livro antigo em uma língua que o rapaz não soube identificar.

- Lucy falou que você tava me esperando.
- Na verdade, lendo. Mas também esperando você. Como se sente, cara?
- Acho que... Bem. Nada mal pra quem tá morto, né?
Rhuan riu.
- Agora é a parte que você começa a ficar sentimental e pede pra voltar pra sua família e blábláblá? – indagou Rhuan fechando o livro e o colocando na mesa ao lado da poltrona.
-... Quando encontrar eles... – ensaiou Thiago procurando as palavras certas – Eu não vou... Sabe, querer morder eles ou algo assim?
- Por enquanto e se não estiver com fome, não. – respondeu o vampiro abrindo seu sorriso infantil – Você quer ir fazer uma visita?
- Melhor não. Eu moro sozinho, num apartamento que pagava com a grana de umas fotos que eu fazia. Ligo todo dia. Pra não acharem que fui seqüestrado, morri ou algo assim...
- Mas você morreu, Thi. – rebateu o vampiro animado. Thiago continuou olhando para Rhuan, sem saber o que falar – To brincando, cara, relaxa. Eu vou te dar um celular... Acho que quebrei o seu no outro dia. Então, enquanto ainda se importar com eles... Porque logo você vai deixar de se importar... Pode falar com eles. Até fazer uma visitinha, se quiser. Só lembra de ir à noite e alimentado, afinal, não vai querer comer sua família, não é?

A resposta de Rhuan fez o rapaz ficar aliviado e, ao mesmo, tempo foi o anúncio de um destino inevitável. Ele se aproximou do companheiro, que fez um gesto para que ele se sentasse.

- Você não vai sair pra morder alguém hoje? – perguntou Thiago enquanto o vampiro ligava uma grande TV que ocupava grande parte da parede.
- Você quer? Se quiser podemos ir.
- Não! Não! – Disparou Thiago se agitando no sofá – Quer dizer... Não, eu tô legal.
- Ótimo. Qualquer coisa pode pedir pra Lucy trazer alguma coisa. Você foi transformado há dois dias. Acho que ainda deve sentir fome de comida humana. – Comentou Rhuan displicente enquanto Lucy trazia um telefone para Thiago. – Quando acabar, se quiser, hoje é dia de Halo Night! – Falou o vampiro animado com seu largo sorriso de criança no rosto.

Thiago se afastou com o telefone enquanto ligava pra casa.

- Alô, mãe?...É, sou eu. Não, não, tá tudo bem. Só queria saber como vocês tão aí em casa. ...Olha, mãe, eu queria avisar que mude...Que me mudei. É, to dividindo um apartamento com um amigo da faculdade... Não, ele é legal, sem problema. Depois te ligo de novo mandando o endereço, tá. É que acabei de mudar...Ainda não me acostumei com a nova...Casa... Então, foi só pra isso. Tá, eu me cuido. Pode deixar. To...To gostando, sim. Não se preocupa, não, tá? O quê? Não, mãe, que isso, eu chorando? Até parece! É impressão sua. Ligação que deve tá estranha. Se cuida, viu? Diz pro pai e pra Tina também se cuidarem. Tá... Também te amo.



Sétima Noite

Bom, tive alguns problemas no pc (meu HD foi pro espaço), mas felizmente (Obrigado Seiren, já falei que te amo? ;D) consegui recuperar o texto das crônicas. =]

Então...

Sétima Noite

Thiago despertou com o anoitecer. As pesadas cortinas já estavam abertas e a lua crescente no céu sem estrelas. Verificou o torso para confirmar a regeneração. Sabia que era desnecessário, mas ainda mantinha a mania de verificar sempre que acordava.


Nos últimos sete dias vinha aprendendo mais sobre a nova vida que lhe fora dada. Sabia que comparado a maioria ainda era muito fraco, e por isso não deixava o novo apartamento sozinho.

Levantou e foi até a sala, onde Rhuan estava sentado assistindo ao novo episódio de Lost na TV enquanto Lucy, ajoelhada ao seu lado, acabava de beber uma dose de sangue do vampiro.

- Lucy, querida, já é o suficiente. – disse o vampiro dando dois tapinhas de leve na cabeça da vigia – Agora volte ao trabalho.
Então se virou para Thiago e abriu o sorriso.

- E aí, cara, pronto pra comer? Hoje vou te levar pra conhecer um amigo meu.
- Que amigo?
- Hoshi, ele tem um pub aqui por perto e me chamou pra fazer uma visita.

O vampiro desligou a TV, enquanto Lucy lhe trouxe um casaco preto que se alongava até os joelhos.

- Hum... Tá muito “anjos da noite”?

Thiago olhou para o amigo e os dois começaram a rir enquanto entravam no elevador.

- A gente nunca vai sair pulando pela janela ou algo assim?
- Pra você ter que passar duas horas regenerando as pernas? Um dia, quem sabe.
- Por que a Lucy tava bebendo seu sangue? – indagou Thiago enquanto passava a mão bagunçando o cabelo.
- Cara... Você sabe o que é um vigia?
- Alguém que guarda o vampiro durante o sono?
- Quase isso. Além de velar o sono, um vigia também guarda nossa casa e, quando necessário, também funciona como “guarda costas”.
- Por que um vampiro precisaria de um guarda costas?
- Para fazer as coisas de forma discreta. E beber nosso sangue ajuda.

Quase uma hora depois, os dois chegaram em frente a um grande estabelecimento de dois andares, com janelas espelhadas que tomavam quase toda a parede e uma grande fila de espera do lado e fora. Um letreiro em neon azul formava a palavra JUMP, nome do estabelecimento.

- Me diz que a gente não precisa ficar nessa fila, vai.
- Não, não precisamos. A gente vai pela entrada alternativa.

Respondeu Rhuan sorrindo como uma criança enquanto dava a volta pela calçada até a lateral da JUMP. Então, em um salto, o vampiro chegou até quase o topo do segundo andar, fincando a ponta dos dedos na parede e impulsionando até o telhado. Thiago, que não havia se acostumado às demonstrações de poder do amigo, observou a cena ainda sem acreditar em sua nova realidade.

- Vai ficar aí embaixo até amanhecer, cara?
- E eu lá consigo dar esses pulos de desenho japonês que nem você?
- Não... mas você pode dar uma escalada a lá Homem-Aranha.
- Eu sei, eu sei. Mas espera que isso demora.

Rhuan se espreguiçou enquanto Thiago concentrava-se em aprimorar as unhas até que estivessem no ponto de perfurar a parede, então começou sua escalada até o topo do sobrado.

- Lerdo. – Deboxou Rhuan com o olhar fixo na calçada oposta a JUMP.
- O que foi?
- Ele chegou.
- Seu amigo?
- Não... O Bart! – respondeu Rhuan indicando a direção com a cabeça.

Thiago seguiu o olhar do amigo até encontrar um homem de meia idade, encostado em uma chopper. Ele devia ser mais alto que os dois, calvo com um rabo de cavalo grisalho, um grande bigode branco e roupa social com as mangas dobradas, deixando o antebraço à mostra. Em cada um deles o rapaz podia ver a tatuagem de um ceifador com rosto de mulher, vestindo um manto coberto de cruzes.

- Precisamos sair daqui. – disse Rhuan em tom sério, porém seus olhos cintilavam de empolgação.
- Por quê? Por causa dele? Achei que vampiros fossem os fodões da noite. E ele não é um vampiro.
- Não, ele não é. O nome dele é Bartolomeu, mas chamamos ele de Bart. E ele é um caçador noturno. Sabe o que isso significa? –indagou Rhuan voltando a deixar seu sorriso infantil aparecer.
- Que ele caça vampiros a noite? Dãh.
- Basicamente, sim. Mas não é só isso. Caçadores têm um modus operanti definido. Geralmente se juntam para fazer investidas durante o dia, enquanto estamos adormecidos e eles só precisam se preocupar com guardiões. Mas caçadores noturnos são de um nível completamente diferente. Tá vendo as tatuagens? Cada cruz é um vampiro abatido. E, cara! Como ele já matou dos nossos! Vou te falar, chego a ser fã dele.

Thiago pareceu ser pego de surpresa pela declaração de Rhuan.

- Pensa bem. Ele é humano, e mesmo assim ele atravessa nossos corações e decapita a gente como se fossemos iguais. Você não tem condição de lutar contra ele agora. Se os boatos tão certos, ele já matou até um Mestre de Casa. Volta pro apartamento. Tenho que avisar ao Hoshi.
- Por que não ataca enquanto ele ainda não viu a gente?
- Porque ele já viu a gente.

Rhuan sorriu e entrou por um alçapão escondido no telhado do estabelecimento. Thiago continuou no telhado por alguns instantes e então saltou para a parede do prédio ao lado escalando os outros cinco andares até seu topo. Então parou pensativo, respirou fundo e disparou na direção do JUMP, saltando sobre o sobrado e entrando pelo alçapão.

Mal alcançou o chão e foi surpreendido por um par de lâminas cercando seu pescoço como uma tesoura afiada. O rapaz esboçou uma reação e antes que pudesse completar sua ação foi arremessado contra a parede pelos dois vultos completamente vestidos de preto e encapuzados.
- Chega! Haki, Sai, é o suficiente. Creio que o cavalheiro esteja com você, Rhuan-san?
- Peço desculpas, Hoshi-sempai. Ele ainda é novo.

Os dois vultos voltaram a ladear o japonês com quem Rhuan conversava e bebia. Ele era mais baixo que Rhuan, cabelo longo e liso preso na ponta e usava um elegante terno branco. Seus olhos vermelho incandescentes revelavam a natureza vampírica.

- Se temos caçadores noturnos cercando a JUMP, é melhor avisarmos a nossos irmãos e nos prepararmos para o confronto. Sai, avise para emitirem o sinal de alerta. Quero todos os guardiões preparados.

O vulto com quem Hoshi falou fez um movimento rápido com a cabeça e desapareceu nas sombras. Thiago se conteve para não comemorar. Ninjas! Há uma semana ele havia se tornado um vampiro, e agora acabara de encontrar com ninjas! Virou para Rhuan com um grande sorriso no rosto sem nem mesmo perceber, e o amigo, ao notar, também deixou uma risada rápida escapar enquanto fazia uma ligação no celular.

Em pouco tempo o estabelecimento estava vazio. Clientes foram induzidos a deixarem o local, que agora estava preparado para ser palco de uma batalha com os caçadores.

A porta dupla da entrada abriu lentamente, no ambiente sem luz, Thiago utilizou sua visão noturna para acompanhar um objeto oval rolar até o meio do salão. Ele sabia o que era, ou pelo menos pensou saber. Rapidamente se atirou no chão esperando a explosão. Não houve tremor e o vitral do segundo andar não se estilhaçou. Ao invés disso, a sala foi invadida por uma claridade tão intensa que começou a fazer o corpo do jovem vampiro fumegar.

Haku e Sai se colocaram na frente de Hoshi, para protegê-lo da luz, enquanto Rhuan pegou Thiago pela gola da camisa e se jogou para trás do bar da sala. Era o que os vampiros chamavam de granada de sol. As coisas não iam bem. Logo tiros começaram a ser ouvidos no andar de baixo. Seguidos de mais explosões de granadas de sol para impedir a ação dos vampiros. Aquele não era um ataque qualquer, era uma operação planejada contra Hoshi.

Os três vampiros recuaram pelo alçapão no teto para campo aberto, onde as granadas não teriam tanto efeito. Grande erro. Um helicóptero esperava os três, passando num vôo rasante por cima do JUMP enquanto um caçador disparava balas de prata com uma metralhadora.

- Merda! Se abaixem!

Thiago gritou desesperado se jogando no chão com as mãos sobre a cabeça. Seus dois companheiros apenas observavam. Rhuan com o sorriso de sempre no rosto, apenas um pouco mais empolgado, e Hoshi com sua face inexpressiva e os longos cabelos revolvendo com o vento. O jovem vampiro por um instante ficou sem entender o que acontecia, até que o helicóptero deu a volta e Haku surgiu saindo das sombras ao lado de seu mestre estendendo uma katana a ele.

Os tiros voltaram a ser disparados, Rhuan pareceu desaparecer e reaparecer ao lado de Thiago, o erguendo com uma das mãos e atirando para um dos prédios vizinhos. Ele rodou no ar e caiu sobre os quatro membros, mais parecendo um felino enquanto seus olhos reluzindo rubros acompanharam o vampiro japonês empunhar a katana e como um relâmpago desembainhá-la traçando um arco sobre a cabeça e voltar a guardá-la. O movimento foi tão rápido que pareceu um borrão até mesmo para a visão sobrenatural de Thiago. Instantaneamente o helicóptero emitiu um grito de metal se partindo e aos poucos foi se dividindo em dois com a parte da frente caindo sobre a JUMP ao mesmo tempo em que a parte traseira rodopiava e ameaçava bater nos prédios vizinhos. Os dois caçadores a bordo da nave saltaram, sendo pegos antes de atingirem o chão por Rhuan.

A explosão do choque do helicóptero contra o prédio ofuscou a visão de Thiago por alguns instantes, o suficiente para que os dois caçadores salvos por Rhuan virassem quatro pedaços de carne e manchas de sangue da cobertura do prédio. Então mais uma explosão das granadas de sol fez o rapaz saltar de cima do prédio e cair no estacionamento, longe dos destroços em chamas que choviam do outro lado e dos caçadores que agora cercavam o prédio.

Thiago saltou para a calçada e se concentrou para fazer as garras crescerem. Se queriam matar ele, iriam ter trabalho. Correu mais veloz do que já havia corrido a vida toda e aproveitou o impulso encravar o punho atravessando através das costas até o tórax de dois dos caçadores, então sem nem mesmo perceber emitiu uma espécie de rosnado deixando os dentes a mostra e os olhos brilharem intensamente. Lambeu avidamente o sangue que escorria por seu punho conforme se curvava em posição para um bote rápido contra qualquer um dos oito caçadores que o cercavam. O gosto doce do sangue descendo por sua garganta fez com que começasse a ouvir a voz fria e carregada de ódio da besta no fundo de sua cabeça, clamando por ser solta e pelo sangue daqueles humanos. Thiago voltou a rosnar para os caçadores e em velocidade sobre humana decepou o braço de mais dois que lhe apontavam um par de metralhadoras modificadas, então girou acertando o próximo com a palma da mão aberta, atirando-o contra a parede da JUMP. Foi quando teve uma sensação diferente, virou instantaneamente para trás, encontrando o velho Bart o encarando por trás dos óculos escuros. O jovem vampiro saltou, enquanto o velho caçador apenas ajeitou os óculos.

De repente, o abdome de Thiago começou a arder como se pegasse fogo. O rapaz caiu aos pés do caçador novamente com as feições humanas e as mãos envolvendo o próprio corpo. Duas balas de prata o haviam atingido no momento do salto. Sentia o corpo ficar dormente enquanto o velho apenas observava tirando uma 45 prateada do coldre e a apontava para seu coração.

O velho Bart não falava nada. As batidas de seu coração não sofriam alteração alguma. Ele apenas apontava a arma para o vampiro ainda jovem e o eliminaria ali mesmo, antes que pudesse crescer e se tornar uma ameaça maior. Era mais um adolescente. Eles vinham aparecendo em número cada vez maior nos últimos anos. Adolescentes idiotas querendo virar crias de demônio. Vidas jogadas fora por imaturidade misturada com excesso de hormônios. Bart encostou a arma no peito de Thiago, que tremia encarando o caçador noturno sem conseguir nem mesmo mostrar as presas. Era o fim daquele infeliz transformado.

Rhuan acertou Bart com um chute potente o suficiente para fazer o externo do velho sair pelas costas. Porém o caçador apenas voou alguns metros e caiu longe de Thiago, que tremia no chão se contorcendo de dor. Ele olhou para o companheiro e então saltou como um relâmpago sobre o caçador. Não tinha vontade de matar Bartolomeu. Mas não podia deixar uma cria morrer. Ele deixou os olhos se inflamarem e o rugido fazer seu papel, enchendo o coração dos humanos mais próximos com tanto pavor que eles não seriam capazes de intervir na batalha. Bart rolou para o lado rapidamente, descarregando um pente inteiro de balas de prata contra Rhuan, que apenas desviava de cada tiro e se aproximava do caçador. Do outro lado da rua, os demais caçadores que não estavam paralisados de medo, enfrentavam Hoshi. Enfrentar não era bem a palavra. Tentavam sobreviver a Hoshi.

Bart suspirou enquanto soltava as armas e girava desviando de mais um ataque do vampiro. Ele sabia que aquele ataque não devia ser feito, mas a fundação insistiu em eliminar um centenário. Claro, por que não era a rabo deles que iria ser partido em dois naquela noite, literalmente. O suit ainda tinha carga o suficiente pra cerca de 10 minutos de combate, mas contra Rhuan era o equivalente a 2. Que sorte, ir numa caçada suicida contra um centenário, e acabar encontrando dois.

Rhuan acertou um golpe com suas garras no peito de Bart, arremessando o caçador mais alguns metros e expondo o suit que ele usava por debaixo das roupas. Maldita tecnologia. Era tão mais prático quando os humanos corriam atrás deles com crucifixos e água benta achando que teriam algum efeito. Água benta de padres que escondiam tanta sujeira quanto eles nos armários do clero e crucifixos empunhados por pessoas que acreditavam que algumas moedas de outro lhes compraria um lugar no céu. Bons tempos. Agora matar esses inconvenientes dava mais trabalho, e matar um com mais de quarenta anos de experiência na briga, era pior ainda.

Bart ofegava enquanto se erguia do chão encarando Rhuan. O vampiro vinha andando em sua direção com os olhos flamejantes. O caçador se jogou para o lado desviando de uma espécie de lâmina negra que se alongava do poste na tentativa de lhe atravessar a cabeça.

- Esse é o grande Bart! – Exclamou Rhuan animado.
- E você seria...? Desculpe, é que não consigo lembrar os nomes de vocês direito depois de já ter matado tantos. Eu acabo confundindo. – rebateu Bartolomeu irônico.
- Bart, Bart. Sempre um comediante. Por que você não se aposenta? Prometo que não vamos atrás de você depois que tiver velho, gordo e com o colesterol astronômico.
- Por que vocês não param de transformar e matar pessoas inocentes?
- Você sabe – falou Rhuan enquanto suspirava se aproximava mais do caçador – que se fizermos isso vamos morrer e nos extinguir.
- E isso seria ruim?
- Eu, particularmente, acredito que sim. Você não? – Rhuan voltou a sorrir. Bart também.
- Não.

Nesse instante, Rhuan ouviu o zumbido de algo se aproximando. O vampiro saltou a tempo de escapar do impacto de uma granada de sol que explodiu o cegando momentaneamente, tempo suficiente para o caçador escapar. Rhuan podia perseguir Bart, mas apenas sorriu e voltou para pegar Thiago que agonizava.

Tinha sido uma noite e tanto.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Primeira Noite

Bom, história que resolvi fazer pra passar o tempo. São várias noites diferentes contadas numa ordem não cronológica, mas que podem ser lidas na ordem depois... Bem, mais ou menos. Nem toda noite serão necessariamente os mesmos personagens, mas todas partes da mesma história. =]

Então é isso.

Primeira noite

Thiago abriu os olhos lentamente, ainda com a visão um pouco nublada. O vento frio batia em seu rosto enquanto o rapaz ouvia o bater de asas de alguns pássaros ao longe. Passou a mão direita pelo rosto e esfregou, ainda tentando despertar completamente e sentou-se no banco quase em câmera lenta. Seus pés não conseguiram achar o chão. Ele olhou pra baixo por reflexo, deparando com a distância de 11 andares entre seus pés e a calçada. Com o susto, o rapaz se jogou para trás, caindo para a parte de dentro da cobertura do prédio onde estava e conseqüentemente, encontrando um jovem sentado um pouco mais atrás dele, sobre um bloco de concreto de aproximadamente meio metro.

O desconhecido sorriu amigavelmente para Thiago enquanto acenava de leve com uma das mãos, então se levantou apoiando as mãos no joelho e limpou o jeans verde escuro antes de se aproximar.

- Cara, você dorme muito! Sabe a quantas horas tô aqui esperando pra falar contigo? – resmungou o rapaz ainda sorrindo.

- Hein? Comigo? Que que cê quer? Aliás – falou Thiago com esforço enquanto se virava e ficava de pé – o que eu tô fazendo aqui?!

- Dormindo, né, amigão? Dormindo e roncando! Mas tudo bem, é tua primeira noite mesmo. Então, você quer a versão clássica do discurso ou posso fazer o resumo?

- Discurso? Do que cê ta falando?

- Versão resumida, então. – escolheu Rhuan despreocupadamente – Cara, parabéns! Você é um vampiro!

- QUÊ? Tá de sacanagem com a minha cara? Não tenho tempo pra isso, não, ô loirinho. – caçoou – agora dá licença que não sou chegado nessas coisas não.

Rhuan deu um leve suspiro e uma olhadela no horizonte de cima do prédio. Ele podia ver as ondas quebrando na praia de Copacabana dali. E como se abanasse uma mosca, acertou no rosto de Thiago um tapa com as costas da mão. O rapaz não teve nem mesmo tempo de reagir. Foi arremessado através da metade da cobertura, se chocando contra a parede da estrutura do elevador e quicando de volta para o chão. Sua visão embaçada via tudo rodar, ao mesmo tempo que sentia alguns ossos partidos do lado direto do corpo e tossia um pouco de sangue.

- Acho que isso deu pra convencer né, cara? Não tô com tempo pra te fazer acreditar em mim. Tenho muita coisa pra mostrar para você, e daqui a pouco o sol nasce. E aí a gente brilha... Não do jeito que você tá pensando. É mais do tipo combustão espontânea, sabe qual é? Uns dez segundos e você tá saindo fumaça, um minuto e você tá berrando enquanto vira churrasco. Legal, né?

Thiago ouvia o discurso de Rhuan de forma distante, ainda vendo o mundo girar pela pancada que levara.

- Agora, levanta que tá na hora da lição número 2.

Rhuan ajudou Thiago a se levantar e os dois desceram pelo elevador até o térreo do prédio. Durante a descida, o rapaz foi sentindo seus ossos estalando e retornando ao lugar, num processo nada agradável de se passar. O suor escorria por seu rosto enquanto ele encarava o companheiro que apenas balançava despreocupadamente a cabeça acompanhando a música de fundo que tocava.

Em pouco tempo ambos estavam atravessando o hall de entrada do prédio, despercebidos pelos outros visitantes. Rhuan acenou de leve para uma bela arrumadeira morena, que sorriu de volta para o rapaz. Ele era alto, olhos castanhos e cabelo castanho claro ondulado. Usava calça jeans verde escuro, jaqueta vermelha e blusa branca. Não devia ser muito mais velho que Thiago, pelo menos era o que parecia. Thiago era um pouco mais baixo, calça jeans de um azul desbotado, all star branco e blusa preta do Audio Slave. Mantinha o cabelo bagunçado que, assim como os olhos, era negro. Havia acabado de passar no vestibular de história, mas sua verdadeira paixão era a fotografia. A última coisa que lembrava era de ter ido à orla para fazer algumas fotos aproveitando a luz do anoitecer e, de repente... Acordar no alto do prédio.

Saíram do prédio e foram caminhando pelo calçadão. Thiago via o companheiro observar tudo com um interesse arteiro, enquanto ele mesmo ainda se recuperava agüentando a dor de alguns ossos de seu ombro se curando de fissuras.

- Sabe, você vai precisar comer logo, logo.

- Hei! Comer? Tipo, chupar sangue alheio?

- E de que outra forma seria, cara? Vou te mostrar como fazer nas horas de aperto, antes que tu fique maluco correndo por aí.

Os dois seguiram até as ruas menos movimentadas e se acomodaram no banco de um ponto de ônibus. Thiago começava a sentir as primeiras contrações em seu corpo, como se seu organismo pedisse por alimento.

- Falei que tu ia precisar comer. Mal nasceu e já teve que consertar o ombro esmagado.

- De quem foi mesmo a culpa hein?

Thiago ficou com um ar meio emburrado e meio sem graça, o que fez o companheiro rir.

- Então, Thi... Posso chamar de Thi, né? Que tipo você prefere?

- Como assim tipo?

- Loiras, morenas... homens?

- Porra! Tá achando que sou o quê?

- Que foi? Só por que sou vampiro? Não tenho preconceito com a preferência dos outros, não. Eu gosto de ruivas! –acrescentou o vampiro abrindo um largo sorriso infantil.

- Vou ter mesmo que chupar o sangue de alguém?

- Beber o sangue, chupar é pejorativo demais, cara. Vai sim, isso ou tu definha aí até morrer de vez.

- Acho que não vou conseguir, não. Só de pensar já embrulhou o estômago.

- Relaxa, é tua primeira noite. Tu vai ver que daqui uns tempos vai ser que nem ir em lanchonete. Olha o que tem, escolhe e come.

- Mas é gente!

- Comida. Você fica com pena de comer hambúrguer por que mataram a vaca? Então. Não vai demorar pra você não ligar de beber sangue por que matou alguém.

Os dois se entreolharam por alguns instantes até que uma jovem loira, de vestido azul claro e curto parou esperando seu ônibus, que fez Thiago lembrar de uma garota da faculdade. A barriga de Thiago voltou a contrair ainda mais forte. A garota usava um perfume doce. Rhuan sorriu ao ver os olhos de Thiago se enrubescendo rapidamente. Ela sentiu sua cabeça ser puxada pra trás enquanto era derrubada de bruços no chão. Thiago percebeu que o cheiro doce não era perfume, e sim sangue. Ela sentiu duas agulhas se cravando na base do pescoço e tentou se debater. Thiago segurou firme os punhos da garota com uma das mãos, enquanto envolvia seu pescoço com a outra. Ela tentou gritar, mas sua voz não saía. Ele nunca tinha provado algo tão bom na vida.

O sol apareceu no horizonte enquanto Lucy, a vigia de Rhuan, acabava de fechar as pesadas cortinas do quarto de hotel que o vampiro morava. Ele já estava em transe na grande cama, enquanto Thiago apagou no sofá depois de ter repetido a refeição três vezes e não se recordar disso. Foi a primeira vez que perdera o controle para a besta. E não seria a última, nunca é.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A corrida dos sensores de movimento nos games

Cada vez mais a tecnologia avança, e os consoles acompanham esse avanço em gerações cada vez mais potentes e com maiores recursos. Hoje já é possível jogar através de redes online próprias de cada console com pessoas de qualquer lugar do mundo, assim como baixar expansões para seus jogos. Agora, o mundo dos games passa por um período onde os sensores de movimento são a grande sensação.


O Nintendo Wii, console que representa a Nintendo nessa última geração, iniciou essa corrida ao utilizar seus controles inovadores (wiimote e nunchuk) para captar o movimento que o jogador fazia e reproduzi-lo no jogo. A aposta da Nintendo no Wii foi grande. O novo console apostou numa jogabilidade casual, com jogos mais simples e fáceis de se jogar, o que atraiu novos usuários e gerou certa insatisfação por parte dos jogadores tradicionais. Porém o Wii foi um sucesso e acabou por ditar o novo caminho para onde os jogos iriam.

Com todo o sucesso dos sensores de movimento da Nintendo, não demorou para as outras duas grandes empresas do ramo, a Sony e a Microsoft, também anunciarem periféricos que possibilitassem a seus próprios consoles essa função.

Na Game Developer's Conference de 2010, um ano após o anuncio de seu projeto, a Sony mostrou seu PlayStation Move. Muito semelhante ao controle do Wii, o PlayStation Move, segundo a produtora, terá a capacidade de gravar e reproduzir movimentos mais desenvolvida que o primeiro, com a possibilidade de ser utilizado em aplicações de realidade aumentada.

A gigante Microsoft, que finalmente firmou seu lugar no mundo dos games com o Xbox 360, também entra na corrida dos sensores de movimento. Para isso, anunciou o Project Natal, um conjunto de câmeras que gravam os movimentos do jogador e os transfere para a tela de jogo, dispensando a necessidade de um controle. O sistema se adapta automaticamente ao jogador que se coloca na frente da câmera, chegando até mesmo a modificar o personagem do jogo para personificar melhor o jogador.

Além disso, os sensores ainda são capazes de reconhecer outros detalhes, como, por exemplo, a força aplicada nos movimentos. É o que acontece em Ricochet, jogo utilizado no vídeo demonstrativo do Natal. Segundo Erik Brudvig, repórter da ING que também participa do vídeo, demora um pouco para se acostumar a nova jogabilidade e há uma pequena diferença entre o momento que você se mexe e o momento em que seu avatar no jogo começa a se mexer.

De acordo com a Microsoft, o Natal funciona sob qualquer condição de iluminação, uma vez que possui um sensor infravermelho com capacidade suficiente para detectar o calor corporal do usuário e utilizá-lo para gravar seus movimentos. Porém, até agora essa função não foi demonstrada, com exibições do aparelho feitas sempre em condições favoráveis, iluminação satisfatória e pouca interferência no ambiente.

Quanto à questão da compatibilidade de jogos com o Projeto Natal, Tsunoda afirma que jogos já lançados não serão compatíveis. A justificativa se baseia na necessidade de modificar grande parte do código do jogo para que haja essa possibilidade. Fator que impossibilita até mesmo o lançamento de patchs, atualizações para os jogos, que possibilitem a compatibilidade.

Segundo informações recentes, o Project Natal deve ser lançado em novembro deste ano, o preço girando em torno de U$50 e U$80, com 14 jogos já prontos para serem lançados.

confira mais algumas noticias sobre o Projeto Natal: