sábado, 1 de maio de 2010

Dia 01

Já deu pra notar que não to mais atualizando diarimente o blog, né? Pois é. Ilustração a cada postagem demora... E escrever histórias novas demoram um pouco também, já que as que tinham prontas acabaram faz tempo. Então tentar atualizar semanalmente, com sorte duas vezes por semana.

Agora parando de enrolar...


Dia 1

Bartolomeu desceu da chopper mancando e ofegante. O suit desativado agora não passava de uma roupa colante esquisita sob suas roupas normais. Os hematomas serviram para mantê-lo acordado durante caminho. Ele foi cambaleando até uma porta de aço, empurrando-a com o peso do corpo, e desceu a longa escadaria escorando-se nas paredes com o ombro.

Ele seguiu pelo corredor até uma porta de prata maciça coberta por símbolos que nem ele mesmo conhecia, mas garantiam que nada indesejado ultrapassasse aquele ponto. Um verificador de temperatura corporal e scanner de retina garantiram seu acesso ao elevador. Bart entrou e recostou na parede, quase adormecendo embalado pela música ambiente até que o plim anunciando sua chegada ao local desejado o despertou.

Era uma câmara maior do que uma casa, agora lotada com paramédicos e enfermeiros correndo de um lado para o outro atendendo a caçadores que eram trazidos por diversos outros pontos de despejo. Ele sabia que ia terminar assim. Tentou fazer a diretoria da Fundação entender, mas foi tudo inútil e o resultado que previra estava ali diante dele. Caçadores mutilados a beira da morte em cima de macas empurradas por médicos desesperados tentando salvar o máximo de vidas possíveis, estancando hemorragias, limpando ferimentos.

Um dos enfermeiros se aproximou de Bartolomeu e o ajudou a deitar em uma das macas para ser atendido. Ele sabia que era o paciente mais saudável daquele lugar. Alguns ossos fraturados, uma ou outra laceração, mas nada vital fora atingido. A droga do suit realmente valia a pena. Deixando escapar um gemido de dor, ele retirou a parte superior do traje, deixando a mostra o tronco musculoso coberto de inúmeras cicatrizes. Lembranças de caçadas anteriores. Aos poucos, o barulho dos gritos no salão foi diminuindo substituídos pelo silêncio da inconsciência a qual se entregava.

O sol já brilhava no céu enquanto Lucy, deitada no sofá, selecionava algumas músicas para baixar em seu ipod. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo, usava uma camisa branca simples e um short rasgado. A aparência casual quase camuflava a 45 posicionada entre as coxas da jovem.

Era dia e seu mestre estava adormecido. Um amanhecer fora do comum. Rhuan chegara carregando o apprenti no ombro. Parecia ferido, mas achava que ele iria sobreviver. A jovem acabou de carregar as músicas, colocou o fone no ouvido e começou a desmontar uma metralhadora que estava em cima da mesa e limpá-la.

Duas batidas leves na porta interromperam o trabalho de Lucy, que remontou a metralhadora de forma tão rápida que quase não se pode ver seus movimentos. Então se aproximou da porta verificando se a 45 estava carregada, a encostou abaixo do olho mágico e verificou pelo monitor quem estava do lado de fora. Um homem corcunda trajando um longo casacão velho, cartola e um cachecol rosa, portando uma grande maleta de couro. Ela abriu a porta e antes mesmo que o visitante pudesse se anunciar tinha o cano da pistola encostado em sua testa.

- Bom dia, menina Lucy. – cumprimentou o ancião com um sorriso que mostrava seus dentes amarelados.
- Ah, é o senhor. Bom dia. – respondeu Lucy sem alterar sua voz.
- Recebi a informação de que seu mestre gostaria de meus serviços... poderia tirar isso da minha testa? – perguntou apontando para o revolver.

Lucy abaixou a arma e guiou o ancião conhecido como Doutor até a porta dos aposentos de Thiago. Ainda podia se ouvir os gemidos que o rapaz emitia mesmo adormecido.

- Retiraram as balas? – indagou Doutor conforme retirava o próprio globo ocular direito, removia a íris e a substituía por uma outra de cor diferente como quem substituía um adesivo, e então recolocava o olho no lugar.
- Oui.
- Adoro quando fala francês, menina. – sorriu enrugando ainda mais o rosto envelhecido.

Lucy deu de ombros e retornou para sala.

- Maître Rhuan disse que seu pagamento seria feito da mesma forma de sempre. – informou Lucy enquanto voltava a desmontar a arma. De certa forma, ela pareça gostar de fazer aquilo.
- Ótimo, ótimo. Estava ficando sem espécimes mesmo. – respondeu Doutor mais para ele mesmo do que para Lucy. Então abriu a maleta enchendo o ar da suíte com um cheiro que misturava mofo e morte, e retirou um estojo velho e coberto de manchas. – Ao trabalho. Se me dá licença... – Entrou no quarto.

Bartolomeu acordou novamente na base. Estava em seu quarto. Não havia janelas, apenas a cama em que estava, um guarda-roupas grande, uma estante repleta de livros, a mesinha de cabeceira na qual seu par de pistolas prateadas repousava e uma cadeira de madeira do lado oposto ao da mesa. A luz estava regulada no fraco e seus ferimentos cobertos por bandagens um pouco incômodas. Bart retirou um cordão de prata com uma aliança do pescoço e a passou entre os dedos, então e ficou observando o ventilador girar no teto. Não gostava de ar condicionado, sempre o deixava desligado.

Não demorou muito para a porta se abrir deixando a Dra. Mariana, diretora do setor médico da base, entrar após dar algumas orientações e assinar uma ficha trazida por algum dos novos enfermeiros. Poucos anos mais nova que Bart na Fundação. Tinha por volta dos 40, cabelo liso acima do ombro, assim como os olhos, castanho-claro, pele pálida por quase não sair da base subterrânea, lábios cheios. Era uma bela mulher.

- Nada faltando? Que sem graça! – implicou Mariana.
- Na próxima eu tento perder um braço, melhor assim? – sorriu e tornou a fisionomia séria – Quantos perdemos?
- Quantos não perdemos. É mais fácil. – ela olhou na ficha – 52.

Bart esqueceu a dor e acertou um soco na parede.

- Eu avisei! Sabia que ia dar nisso! Vocês não me ouviram! Não se manda caçadores que só fazem matar vampiros adormecidos contra um centenário! Vocês devi...
- Devia? O que eu podia fazer? Não controlo as operações! Não fui eu quem mandou essas pessoas morrer lá! Não fui eu quem provocou nada disso! Acha que não tentei convencer os diretores? A ordem não veio daqui. A base Norte enviou as ordens! A única coisa que to fazendo é tentando salvar o máximo desses soldados que eu posso! Não venha descontar em mim, Bart! – Explodiu Mariana.
- Eu... Eu não. Sei que não foi culpa sua. É que já perdemos tanta gente pra esses desgraçados normalmente. Mandar mais dos nossos pra morrer assim...!
- Eu sei. – Disse Mariana sentando-se na cama – você sabe. Mas não é o suficiente... Por que não podemos deixar isso tudo pra lá? Por que não esquece isso tudo? – Disse enquanto encostava a cabeça nas costas de Bart. A tatuagem de um arcanjo com duas espadas flamejantes cobria quase todas as cicatrizes naquela região – Se pudéssemos esquecer isso, se você pudesse esquecer... Nós poderíamos...

Bart apertou a aliança em sua mão.

- Não posso. Me desculpe...Mas não posso. Eu mato eles, ou eles me matam. É assim que tem que ser. Me desculpe.
- Você se desculpa demais, sabia? – disse Mariana forçando um sorriso – Assim acaba fazendo eu me sentir mal por isso...

Os dois continuaram em silêncio enquanto a médica trocava as bandagens de Bartolomeu. Então deixou o quarto encontrando uma menina que parecia aguardar do lado de fora.

- Ahn... Senhor Bartolomeu? – disse enquanto entrava.
- Sim? O que você quer? – respondeu Bart enquanto abotoava o blusão sobre os curativos novos.
- Bem... Meu nome é Laura, sou nova na base. Me mandaram procurar o senhor. Disseram que ia ser meu mestre de caça.

Bart acabou de abotoar o blusão e fitou a menina. Era jovem, corpo esguio, cabelos loiros lisos em uma franja até quase os olhos azuis e sardas. Rosto de boneca.

- Quantos anos tem?
- 18.
- Não parece. – retrucou Bart colocando os óculos escuros.
- Eu sei. – sorriu como uma menina – Isso ajuda na hora de cravar a estaca e arrancar as cabeças.
- É? Já fez isso quantas vezes?
-... Duas! – contou animada.
- Bom começo. Conhece a base? Sabe onde fica o salão de treino?
- Sei, sim.
- Me encontre lá. Vamos ver o que você pode fazer.

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