sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sétima Noite

Bom, tive alguns problemas no pc (meu HD foi pro espaço), mas felizmente (Obrigado Seiren, já falei que te amo? ;D) consegui recuperar o texto das crônicas. =]

Então...

Sétima Noite

Thiago despertou com o anoitecer. As pesadas cortinas já estavam abertas e a lua crescente no céu sem estrelas. Verificou o torso para confirmar a regeneração. Sabia que era desnecessário, mas ainda mantinha a mania de verificar sempre que acordava.


Nos últimos sete dias vinha aprendendo mais sobre a nova vida que lhe fora dada. Sabia que comparado a maioria ainda era muito fraco, e por isso não deixava o novo apartamento sozinho.

Levantou e foi até a sala, onde Rhuan estava sentado assistindo ao novo episódio de Lost na TV enquanto Lucy, ajoelhada ao seu lado, acabava de beber uma dose de sangue do vampiro.

- Lucy, querida, já é o suficiente. – disse o vampiro dando dois tapinhas de leve na cabeça da vigia – Agora volte ao trabalho.
Então se virou para Thiago e abriu o sorriso.

- E aí, cara, pronto pra comer? Hoje vou te levar pra conhecer um amigo meu.
- Que amigo?
- Hoshi, ele tem um pub aqui por perto e me chamou pra fazer uma visita.

O vampiro desligou a TV, enquanto Lucy lhe trouxe um casaco preto que se alongava até os joelhos.

- Hum... Tá muito “anjos da noite”?

Thiago olhou para o amigo e os dois começaram a rir enquanto entravam no elevador.

- A gente nunca vai sair pulando pela janela ou algo assim?
- Pra você ter que passar duas horas regenerando as pernas? Um dia, quem sabe.
- Por que a Lucy tava bebendo seu sangue? – indagou Thiago enquanto passava a mão bagunçando o cabelo.
- Cara... Você sabe o que é um vigia?
- Alguém que guarda o vampiro durante o sono?
- Quase isso. Além de velar o sono, um vigia também guarda nossa casa e, quando necessário, também funciona como “guarda costas”.
- Por que um vampiro precisaria de um guarda costas?
- Para fazer as coisas de forma discreta. E beber nosso sangue ajuda.

Quase uma hora depois, os dois chegaram em frente a um grande estabelecimento de dois andares, com janelas espelhadas que tomavam quase toda a parede e uma grande fila de espera do lado e fora. Um letreiro em neon azul formava a palavra JUMP, nome do estabelecimento.

- Me diz que a gente não precisa ficar nessa fila, vai.
- Não, não precisamos. A gente vai pela entrada alternativa.

Respondeu Rhuan sorrindo como uma criança enquanto dava a volta pela calçada até a lateral da JUMP. Então, em um salto, o vampiro chegou até quase o topo do segundo andar, fincando a ponta dos dedos na parede e impulsionando até o telhado. Thiago, que não havia se acostumado às demonstrações de poder do amigo, observou a cena ainda sem acreditar em sua nova realidade.

- Vai ficar aí embaixo até amanhecer, cara?
- E eu lá consigo dar esses pulos de desenho japonês que nem você?
- Não... mas você pode dar uma escalada a lá Homem-Aranha.
- Eu sei, eu sei. Mas espera que isso demora.

Rhuan se espreguiçou enquanto Thiago concentrava-se em aprimorar as unhas até que estivessem no ponto de perfurar a parede, então começou sua escalada até o topo do sobrado.

- Lerdo. – Deboxou Rhuan com o olhar fixo na calçada oposta a JUMP.
- O que foi?
- Ele chegou.
- Seu amigo?
- Não... O Bart! – respondeu Rhuan indicando a direção com a cabeça.

Thiago seguiu o olhar do amigo até encontrar um homem de meia idade, encostado em uma chopper. Ele devia ser mais alto que os dois, calvo com um rabo de cavalo grisalho, um grande bigode branco e roupa social com as mangas dobradas, deixando o antebraço à mostra. Em cada um deles o rapaz podia ver a tatuagem de um ceifador com rosto de mulher, vestindo um manto coberto de cruzes.

- Precisamos sair daqui. – disse Rhuan em tom sério, porém seus olhos cintilavam de empolgação.
- Por quê? Por causa dele? Achei que vampiros fossem os fodões da noite. E ele não é um vampiro.
- Não, ele não é. O nome dele é Bartolomeu, mas chamamos ele de Bart. E ele é um caçador noturno. Sabe o que isso significa? –indagou Rhuan voltando a deixar seu sorriso infantil aparecer.
- Que ele caça vampiros a noite? Dãh.
- Basicamente, sim. Mas não é só isso. Caçadores têm um modus operanti definido. Geralmente se juntam para fazer investidas durante o dia, enquanto estamos adormecidos e eles só precisam se preocupar com guardiões. Mas caçadores noturnos são de um nível completamente diferente. Tá vendo as tatuagens? Cada cruz é um vampiro abatido. E, cara! Como ele já matou dos nossos! Vou te falar, chego a ser fã dele.

Thiago pareceu ser pego de surpresa pela declaração de Rhuan.

- Pensa bem. Ele é humano, e mesmo assim ele atravessa nossos corações e decapita a gente como se fossemos iguais. Você não tem condição de lutar contra ele agora. Se os boatos tão certos, ele já matou até um Mestre de Casa. Volta pro apartamento. Tenho que avisar ao Hoshi.
- Por que não ataca enquanto ele ainda não viu a gente?
- Porque ele já viu a gente.

Rhuan sorriu e entrou por um alçapão escondido no telhado do estabelecimento. Thiago continuou no telhado por alguns instantes e então saltou para a parede do prédio ao lado escalando os outros cinco andares até seu topo. Então parou pensativo, respirou fundo e disparou na direção do JUMP, saltando sobre o sobrado e entrando pelo alçapão.

Mal alcançou o chão e foi surpreendido por um par de lâminas cercando seu pescoço como uma tesoura afiada. O rapaz esboçou uma reação e antes que pudesse completar sua ação foi arremessado contra a parede pelos dois vultos completamente vestidos de preto e encapuzados.
- Chega! Haki, Sai, é o suficiente. Creio que o cavalheiro esteja com você, Rhuan-san?
- Peço desculpas, Hoshi-sempai. Ele ainda é novo.

Os dois vultos voltaram a ladear o japonês com quem Rhuan conversava e bebia. Ele era mais baixo que Rhuan, cabelo longo e liso preso na ponta e usava um elegante terno branco. Seus olhos vermelho incandescentes revelavam a natureza vampírica.

- Se temos caçadores noturnos cercando a JUMP, é melhor avisarmos a nossos irmãos e nos prepararmos para o confronto. Sai, avise para emitirem o sinal de alerta. Quero todos os guardiões preparados.

O vulto com quem Hoshi falou fez um movimento rápido com a cabeça e desapareceu nas sombras. Thiago se conteve para não comemorar. Ninjas! Há uma semana ele havia se tornado um vampiro, e agora acabara de encontrar com ninjas! Virou para Rhuan com um grande sorriso no rosto sem nem mesmo perceber, e o amigo, ao notar, também deixou uma risada rápida escapar enquanto fazia uma ligação no celular.

Em pouco tempo o estabelecimento estava vazio. Clientes foram induzidos a deixarem o local, que agora estava preparado para ser palco de uma batalha com os caçadores.

A porta dupla da entrada abriu lentamente, no ambiente sem luz, Thiago utilizou sua visão noturna para acompanhar um objeto oval rolar até o meio do salão. Ele sabia o que era, ou pelo menos pensou saber. Rapidamente se atirou no chão esperando a explosão. Não houve tremor e o vitral do segundo andar não se estilhaçou. Ao invés disso, a sala foi invadida por uma claridade tão intensa que começou a fazer o corpo do jovem vampiro fumegar.

Haku e Sai se colocaram na frente de Hoshi, para protegê-lo da luz, enquanto Rhuan pegou Thiago pela gola da camisa e se jogou para trás do bar da sala. Era o que os vampiros chamavam de granada de sol. As coisas não iam bem. Logo tiros começaram a ser ouvidos no andar de baixo. Seguidos de mais explosões de granadas de sol para impedir a ação dos vampiros. Aquele não era um ataque qualquer, era uma operação planejada contra Hoshi.

Os três vampiros recuaram pelo alçapão no teto para campo aberto, onde as granadas não teriam tanto efeito. Grande erro. Um helicóptero esperava os três, passando num vôo rasante por cima do JUMP enquanto um caçador disparava balas de prata com uma metralhadora.

- Merda! Se abaixem!

Thiago gritou desesperado se jogando no chão com as mãos sobre a cabeça. Seus dois companheiros apenas observavam. Rhuan com o sorriso de sempre no rosto, apenas um pouco mais empolgado, e Hoshi com sua face inexpressiva e os longos cabelos revolvendo com o vento. O jovem vampiro por um instante ficou sem entender o que acontecia, até que o helicóptero deu a volta e Haku surgiu saindo das sombras ao lado de seu mestre estendendo uma katana a ele.

Os tiros voltaram a ser disparados, Rhuan pareceu desaparecer e reaparecer ao lado de Thiago, o erguendo com uma das mãos e atirando para um dos prédios vizinhos. Ele rodou no ar e caiu sobre os quatro membros, mais parecendo um felino enquanto seus olhos reluzindo rubros acompanharam o vampiro japonês empunhar a katana e como um relâmpago desembainhá-la traçando um arco sobre a cabeça e voltar a guardá-la. O movimento foi tão rápido que pareceu um borrão até mesmo para a visão sobrenatural de Thiago. Instantaneamente o helicóptero emitiu um grito de metal se partindo e aos poucos foi se dividindo em dois com a parte da frente caindo sobre a JUMP ao mesmo tempo em que a parte traseira rodopiava e ameaçava bater nos prédios vizinhos. Os dois caçadores a bordo da nave saltaram, sendo pegos antes de atingirem o chão por Rhuan.

A explosão do choque do helicóptero contra o prédio ofuscou a visão de Thiago por alguns instantes, o suficiente para que os dois caçadores salvos por Rhuan virassem quatro pedaços de carne e manchas de sangue da cobertura do prédio. Então mais uma explosão das granadas de sol fez o rapaz saltar de cima do prédio e cair no estacionamento, longe dos destroços em chamas que choviam do outro lado e dos caçadores que agora cercavam o prédio.

Thiago saltou para a calçada e se concentrou para fazer as garras crescerem. Se queriam matar ele, iriam ter trabalho. Correu mais veloz do que já havia corrido a vida toda e aproveitou o impulso encravar o punho atravessando através das costas até o tórax de dois dos caçadores, então sem nem mesmo perceber emitiu uma espécie de rosnado deixando os dentes a mostra e os olhos brilharem intensamente. Lambeu avidamente o sangue que escorria por seu punho conforme se curvava em posição para um bote rápido contra qualquer um dos oito caçadores que o cercavam. O gosto doce do sangue descendo por sua garganta fez com que começasse a ouvir a voz fria e carregada de ódio da besta no fundo de sua cabeça, clamando por ser solta e pelo sangue daqueles humanos. Thiago voltou a rosnar para os caçadores e em velocidade sobre humana decepou o braço de mais dois que lhe apontavam um par de metralhadoras modificadas, então girou acertando o próximo com a palma da mão aberta, atirando-o contra a parede da JUMP. Foi quando teve uma sensação diferente, virou instantaneamente para trás, encontrando o velho Bart o encarando por trás dos óculos escuros. O jovem vampiro saltou, enquanto o velho caçador apenas ajeitou os óculos.

De repente, o abdome de Thiago começou a arder como se pegasse fogo. O rapaz caiu aos pés do caçador novamente com as feições humanas e as mãos envolvendo o próprio corpo. Duas balas de prata o haviam atingido no momento do salto. Sentia o corpo ficar dormente enquanto o velho apenas observava tirando uma 45 prateada do coldre e a apontava para seu coração.

O velho Bart não falava nada. As batidas de seu coração não sofriam alteração alguma. Ele apenas apontava a arma para o vampiro ainda jovem e o eliminaria ali mesmo, antes que pudesse crescer e se tornar uma ameaça maior. Era mais um adolescente. Eles vinham aparecendo em número cada vez maior nos últimos anos. Adolescentes idiotas querendo virar crias de demônio. Vidas jogadas fora por imaturidade misturada com excesso de hormônios. Bart encostou a arma no peito de Thiago, que tremia encarando o caçador noturno sem conseguir nem mesmo mostrar as presas. Era o fim daquele infeliz transformado.

Rhuan acertou Bart com um chute potente o suficiente para fazer o externo do velho sair pelas costas. Porém o caçador apenas voou alguns metros e caiu longe de Thiago, que tremia no chão se contorcendo de dor. Ele olhou para o companheiro e então saltou como um relâmpago sobre o caçador. Não tinha vontade de matar Bartolomeu. Mas não podia deixar uma cria morrer. Ele deixou os olhos se inflamarem e o rugido fazer seu papel, enchendo o coração dos humanos mais próximos com tanto pavor que eles não seriam capazes de intervir na batalha. Bart rolou para o lado rapidamente, descarregando um pente inteiro de balas de prata contra Rhuan, que apenas desviava de cada tiro e se aproximava do caçador. Do outro lado da rua, os demais caçadores que não estavam paralisados de medo, enfrentavam Hoshi. Enfrentar não era bem a palavra. Tentavam sobreviver a Hoshi.

Bart suspirou enquanto soltava as armas e girava desviando de mais um ataque do vampiro. Ele sabia que aquele ataque não devia ser feito, mas a fundação insistiu em eliminar um centenário. Claro, por que não era a rabo deles que iria ser partido em dois naquela noite, literalmente. O suit ainda tinha carga o suficiente pra cerca de 10 minutos de combate, mas contra Rhuan era o equivalente a 2. Que sorte, ir numa caçada suicida contra um centenário, e acabar encontrando dois.

Rhuan acertou um golpe com suas garras no peito de Bart, arremessando o caçador mais alguns metros e expondo o suit que ele usava por debaixo das roupas. Maldita tecnologia. Era tão mais prático quando os humanos corriam atrás deles com crucifixos e água benta achando que teriam algum efeito. Água benta de padres que escondiam tanta sujeira quanto eles nos armários do clero e crucifixos empunhados por pessoas que acreditavam que algumas moedas de outro lhes compraria um lugar no céu. Bons tempos. Agora matar esses inconvenientes dava mais trabalho, e matar um com mais de quarenta anos de experiência na briga, era pior ainda.

Bart ofegava enquanto se erguia do chão encarando Rhuan. O vampiro vinha andando em sua direção com os olhos flamejantes. O caçador se jogou para o lado desviando de uma espécie de lâmina negra que se alongava do poste na tentativa de lhe atravessar a cabeça.

- Esse é o grande Bart! – Exclamou Rhuan animado.
- E você seria...? Desculpe, é que não consigo lembrar os nomes de vocês direito depois de já ter matado tantos. Eu acabo confundindo. – rebateu Bartolomeu irônico.
- Bart, Bart. Sempre um comediante. Por que você não se aposenta? Prometo que não vamos atrás de você depois que tiver velho, gordo e com o colesterol astronômico.
- Por que vocês não param de transformar e matar pessoas inocentes?
- Você sabe – falou Rhuan enquanto suspirava se aproximava mais do caçador – que se fizermos isso vamos morrer e nos extinguir.
- E isso seria ruim?
- Eu, particularmente, acredito que sim. Você não? – Rhuan voltou a sorrir. Bart também.
- Não.

Nesse instante, Rhuan ouviu o zumbido de algo se aproximando. O vampiro saltou a tempo de escapar do impacto de uma granada de sol que explodiu o cegando momentaneamente, tempo suficiente para o caçador escapar. Rhuan podia perseguir Bart, mas apenas sorriu e voltou para pegar Thiago que agonizava.

Tinha sido uma noite e tanto.

4 comentários:

Seiren ^^ disse...

Pedrinho me ama *----*

Anônimo disse...

*-*
tá ficando muito bom!!
quero a próxima!!

Allan disse...

É cara ta ficando muito bom (Y)
PS: adorei o detalhe dos ninjas UAHSDUHASD

Mei disse...

Muuuuuito maneiro!! Mal posso esperar para o próximo cap.! 8D

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